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Comandante da Marinha nega racismo e viés ideológico em crítica por homenagem a João Cândido

Marcos Sampaio Olsen voltou a defender o veto à inclusão do líder da Revolta da Chibata no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria por ser "baseado em gatos"

O almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, tenta barrar homenagem a João Cândido - X/Reprodução

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, afirmou que não houve "conotação ideológico partidária" nem racismo ao barrar a inclusão de João Cândido, o Almirante Negro, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, organizado pela corporação, segundo o jornal Valor Econômico. A homenagem vem sendo discutida na Comissão de Cultura da Câmara desde a semana passada, quando Olsen virou algo de críticas da base governista.

"Eu me posicionei baseado em fatos. Eu não tenho nenhuma conotação ideológica partidária. Aquela carta que eu enderecei ao presidente da Comissão de Cultura procura fazer uma síntese, um apanhado dos fatos que ocorreram em 1910, por ocasião da Revolta dos Marinheiros" afirmou Olsen a jornalistas nesta segunda.

O almirante participou de um evento sobre transição energética no mar, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele ainda negou que a negativa à homenagem tenha relação com racismo, em posição enviada à Câmara. Olsen afirmou que a Marinha "se posiciona por mérito":

"O que se colocou na discussão é que a posição era de racismo, discriminadora. Absolutamente não é isso. A Marinha é uma instituição que se posiciona pelo mérito. Nós temos um herói, negro, marinheiro e casualmente nascido no Rio Grande do Sul que é o imperial marinheiro Marcílio Dias. Participou da guerra, teve seu braço amputado na defesa da bandeira brasileira. Foi morto em combate. Esse, sim."

Na última semana, o comandante da Marinha apresentou posicionamento contrário à inclusão de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria da corporação por "enaltecer um heroísmo infundado" ao reconhecer uma liderança que se insurgiu a partir do papel que exercia na corporação. O parecer afrontou entendimento do Senado, que já havia aprovado a homenagem, e da base governista na Câmara, que encampa a discussão.

"Os castigos físicos levados a cabo nos navios, pratica inaceitável, sob perspectiva alguma, e absolutamente incompatível com os caros preceitos morais observados pela sociedade contemporânea, foram reconhecidos, posteriormente, como equivocados e indignos, e os insurgentes, inclusive, anistiados. Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado", diz a carta assinada por Olsen.

Em reação ao posicionamento, deputados da base se encontraram com o filho de João Cândido, Adalberto Cândido. Ainda em sessão na Câmara, ele se referiu ao pai não como um herói da Marinha, mas um "herói do país". A proposta na Casa foi apresentada por Lindbergh Farias e é relatado por Benedita da Silva, ambos parlamentares do PT do Rio.