Mesmo com trégua em Gaza, Israel não descarta invadir Rafah, diz Netanyahu
Primeiro-ministro considera indispensável invadir Rafah, no sul da Faixa, para eliminar o Hamas
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou nesta terça-feira (30) que Israel lançará em breve uma ofensiva terrestre contra a Faixa de Gaza, havendo ou não uma trégua com o Hamas, ignorando os alertas sobre o risco de um banho de sangue nessa localidade.
Netanyahu deu tais declarações mesmo com os apelos dos Estados Unidos, seu principal aliado, para que evite invadir Rafah, refúgio de 1,5 milhão de pessoas deslocadas pela guerra, e horas antes da chegada do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Israel.
"A ideia de que vamos parar a guerra antes de alcançar todos os objetivos está fora de questão", disse o mandatário israelense a familiares dos reféns sequestrados desde 7 de outubro pelo movimento islamista Hamas, no poder em Gaza.
Entraremos em Rafah e eliminaremos os batalhões do Hamas com ou sem acordo (de trégua), para alcançar a vitória total", acrescentou.
Netanyahu considera indispensável invadir Rafah, no sul da Faixa, para eliminar o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, e liberar os reféns.
O Hamas deve responder a uma proposta israelense de trégua de 40 dias, com uma troca de reféns por presos palestinos em Israel.
Blinken, em seu sétimo giro regional desde o início da guerra, disse na segunda-feira que esperava uma resposta favorável do grupo islamista ao que chamou de proposta "extraordinariamente generosa de Israel".
"O mais rápido possível"
Uma delegação do Hamas voltou a Doha após se reunir na segunda-feira no Cairo com representantes do Egito e Catar (que ao lado dos Estados Unidos mediam o conflito), e dará sua resposta à proposta de trégua "o mais rápido possível", indicou à AFP uma fonte do movimento islamista.
Israel irá esperar essa resposta "até quarta-feira à noite", antes de decidir se envia uma delegação ao Egito, disse um alto funcionário israelense nesta terça.
A proposta acontece após meses de bloqueio nas negociações indiretas.
Uma trégua de uma semana no fim de novembro permitiu a troca de 100 reféns por 240 presos palestinos.
As autoridades israelenses calculam que 129 pessoas continuam em cativeiro em Gaza, das quais 34 teriam sido mortas.
No ataque sem precedentes contra o sul de Israel, os milicianos do Hamas sequestraram mais de 200 pessoas e mataram 1.170, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em represália, Israel iniciou uma ofensiva contra o território para aniquilar o Hamas, que deixou 34.535 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado desde 2007 pelo movimento islamista.
O Hamas exige um cessar-fogo permanente, antes de qualquer acordo sobre a libertação dos reféns, que Israel sempre rejeitou.
As exigências do movimento islamista incluem a "retirada" de Israel do território, o retorno dos deslocados e um calendário claro para o início da reconstrução, disse na segunda-feira um dos negociadores do grupo, Zaher Jabareen, à AFP.
"Reconstruiremos"
O Exército israelense bombardeou Rafah, Khan Yunis, também no sul, e a Cidade de Gaza, no norte, nesta terça-feira, segundo os correspondentes da AFP.
Segundo o Ministério da Saúde do território, ao menos 47 pessoas morreram nas últimas 24 horas no território.
Em Nuseirat, um campo de deslocados no centro da Faixa, os habitantes removiam os escombros com as próprias mãos.
"O reconstruíremos, reedificaremos tudo com a ajuda dos jovens e das crianças. Olhem para eles, é difícil acabar com a vontade de uma geração assim", prometeu um deslocado, Bilal Shalabi.
Na Jordânia, última etapa de seu giro antes de chegar a Israel, Blinken pediu para aumentar a ajuda humanitária para o território, submetido a um duro controle israelense e perto de uma crise de fome, segundo a ONU.
O governo dos Estados Unidos pressiona Israel para facilitar a entrada de ajuda, que chega em números reduzidos e é insuficiente, e iniciou a construção de uma doca flutuante ao longo da costa de Gaza.
A China, que simpatiza historicamente com a causa palestina e apoia a solução de dois Estados como saída para o conflito israelense-palestino, indicou nesta terça que o Hamas e seu rival Fatah - que administra parcialmente a Cisjordânia ocupada - mantiveram negociações de reconciliação em Pequim.
No plano jurídico, o máximo tribunal da ONU rejeitou uma solicitação de medidas urgentes apresentada pela Nicarágua, que acusa a Alemanha de violar a convenção sobre o genocídio de 1948 ao fornecer armas a Israel para a guerra de Gaza.