Idolatria

Mesmo 30 anos após morte, Ayrton Senna segue vivo na mente dos fãs pernambucanos

Maior automobilista brasileiro de todos os tempos, Senna deixou legado além dos títulos mundiais

Pernambucanos ainda carregam valores e ensinamentos que aprenderam com Senna - Paulo André Pedrosa/Folha de Pernambuco

Neste 1º de maio, há 30 anos, o mundo se despedia de Ayrton Senna, que para muitos foi o maior atleta brasileiro de todos os tempos. Para compreender a amplitude de tudo que ele deixou, a Folha de Pernambuco conversou com pernambucanos que têm o piloto como ídolo e que ainda levam ensinamentos para o dia a dia.

Responsabilidade de ser ídolo

Qual a melhor maneira de se homenagear a figura de um ídolo que já se foi? Uma forma é recordar os feitos que ele conquistou enquanto esteve entre nós, algo comum mundo afora. Porém, em alguns casos, apresentar apenas as vitórias deste personagem parece ser algo ainda muito raso diante do verdadeiro legado.

Em 1986, durante uma entrevista ao Roda Viva, famoso programa televisivo de entrevistas, Ayrton Senna, ainda com 23 anos e sem nenhum título mundial conquistado, foi perguntado por Galvão Bueno sobre a responsabilidade de ser um ídolo. O eterno piloto de Fórmula 1 não titubeou em olhar e perceber a importância que tinha para com as próximas gerações e já enxergava, mesmo que tão novo, o que era necessário para marcar o seu nome na história. 

"A maior motivação que qualquer esportista pode ter é a admiração e o afeto das pessoas, em especial das crianças, porque elas são puras e só transmitem coisas boas", disse Senna 38 anos atrás. 

Legado

Fábio Lustosa, que nos anos 90 fundou um fã clube para o ídolo no Recife, enxerga o exemplo de determinação de Senna em alguns episódios marcantes da carreira do piloto. Lustosa também compreende o papel que Ayrton teve enquanto o país viveu graves crises econômicas e ainda engatinhava no processo de redemocratização

“Além das vitórias e de tudo que ele era como piloto, tinha o ser humano. O exemplo que ele deu de superação naquela corrida em Interlagos de 1991, que terminou a corrida com uma marcha, mostra que a gente não pode desistir, que temos que correr atrás, tem que lutar e ter fé”, começou. 

“Essa obstinação que ele tinha, o ensinamento de amar o país, empunhar a bandeira, para mim esse é o maior exemplo que a gente pode ter. Ele amava o Brasil, sabia que aqui se passava um momento difícil e ele tentava de uma maneira ou de outra levantar a nação”, completou.   

Para Will Arcanjo, a mentalidade de Senna está entre as características mais marcantes do "Chefe", apelido que Ayrton tinha entre os pilotos brasileiros mais novos. “Ele era uma pessoa obstinada e tinha uma coisa única nele, que era a certeza que ele ia ser campeão. Soava até um pouco arrogante, mas ele sabia da capacidade dele e da certeza do que queria conquistar”. 

Reiterando a necessidade de autoconhecimento e confiança em si, Marcelo Costa também adicionou um ensinamento que aprendeu com Senna. “A gente acreditando e sabendo do que somos capazes podemos superar as expectativas não só nossas, como dos outros”, falou.   
 
Em uma busca por resumir a ética de trabalho do ex-piloto, aspectos da fé e o amor à profissão, os fãs lembraram de uma frase de Senna em entrevista a João Dória, em 1994 - poucas semanas antes do acidente fatal. Na oportunidade, Ayrton já era tricampeão mundial e destrinchou sob quais lemas alcançou alguns dos objetivos na vida. “Tenha como meta muita força, determinação e sempre faça tudo com muito amor e fé em Deus que um dia você chega lá”, declarou. 

Atravessando gerações 

A morte de Senna desencadeou no mundo uma série de homenagens. Não é raro encontrar outras pessoas com o nome Ayrton ou Senna que surgiram enquanto o piloto ainda estava vivo ou logo após a morte. Como é o caso deste que conta esta história, na qual os pais decidiram eternizar a admiração ao ídolo, batizando assim o filho primogênito, um ano depois do falecimento do automobilista. 

Fábio Lustosa foi outro que rendeu homenagens ao longo do tempo e, quando soube que seria pai de um menino, não teve dúvidas que registraria a criança com alguma homenagem. Apesar da resistência encontrada em casa e da força dos 23 anos que atravessaram a morte de Ayrton e do nascimento de Benjamin Senna, o fã concretizou seu tributo. 

“Ele é apaixonado por Senna, tem sete anos. Tudo o que vê de Ayrton Senna manda para mim, o chama até de Tio Senna. Se você perguntar para ele o porquê do nome, ele responde que ‘é o grande ídolo de papai e meu também’”.