Em principal aposta para limpar rio Sena, Paris inaugura "catedral subterrânea"; fotos
Estrutura escavada a 30 metros de profundidade ajudará a evitar descarga de esgoto em área de competições de natação
Não tem torre nem vitrais, mas a cavernosa instalação subterrânea de águas pluviais inaugurada nesta quinta-feira na capital francesa antes das Olimpíadas de Paris é comparada à Catedral de Notre Dame.
A nova estrutura gigante, escavada a 30 metros de profundidade junto a uma estação ferroviária, é uma parte fundamental dos esforços para limpar o rio Sena, que irá sediar disputas de natação durante os Jogos Olímpicos de Paris, em julho e agosto.
"É uma verdadeira catedral. É algo excepcional" disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, nesta quinta-feira, enquanto caminhava pela base da construção em forma de cilindro que levou mais de três anos para ser concluída.
O vice-prefeito de Paris, Antoine Guillou, comparou o projeto no oeste de Paris, perto do centro de transportes de Austerlitz, a Notre Dame, que está em reconstrução após um incêndio em 2019.
"Gosto de dizer que estamos construindo duas catedrais" disse ele aos repórteres durante uma visita em meados de março. — Há aquela acima do solo que todo mundo conhece, a Notre Dame. E há aquela subterrânea.
Notre Dame não estará pronta a tempo para os Jogos de Paris, como prometido pelo presidente Emmanuel Macron imediatamente após o incêndio que devastou a obra-prima de 850 anos. Mas o seu pináculo foi restaurado, e os trabalhadores estão trabalham no telhado antes da reabertura, prevista para dezembro.
Felizmente para os nadadores olímpicos de águas abertas, o reservatório de águas pluviais deverá entrar em serviço em junho, após testes no final deste mês.
A sua função será armazenar a água em caso de fortes chuvas, reduzindo a hipótese de o sistema de esgotos da capital descarregar o conteúdo rico em agentes patogênicos diretamente no Sena.
Descargas sujas
O sistema de saneamento de Paris está sob escrutínio público após as promessas dos organizadores olímpicos de usar o Sena para a maratona de natação e o triatlo durante os Jogos, que começam em 26 de julho.
A limpeza do rio também foi citada como uma das principais conquistas do legado de Paris 2024. Hidalgo disse que pretende três zonas balneares públicas nas águas do Sena no próximo ano.
Uma das características do sistema de saneamento – que data de meados do século XIX – é que recolhe esgotos, águas residuais domésticas e águas pluviais nos mesmos túneis subterrâneos antes de encaminhá-los para as estações de tratamento.
No caso de uma grande tempestade, o sistema fica sobrecarregado, o que leva à abertura de válvulas que liberam o excesso de água contendo esgoto não tratado diretamente no Sena.
Na década de 1990, isso levou ao lançamento anual de cerca de 20 milhões de metros cúbicos de água suja contendo esgoto, segundo dados da prefeitura de Paris. Nos últimos anos, após um programa de investimento e modernização de várias décadas, o número caiu para cerca de 2 milhões de metros cúbicos.
Em média, as descargas ocorrem atualmente cerca de 12 vezes por ano. Mas, com as novas instalações, esse número deverá cair para cerca de dois, dizem as autoridades municipais.
Risco de cancelamento
Uma tempestade ou uma sucessão de fortes chuvas ainda podem levar ao cancelamento das provas olímpicas de natação.
Mas o chefe do Comitê Organizador, Tony Estanguet, enfatizou na quinta-feira que havia planos de contingência em vigor, incluindo a possibilidade de atrasar as disputas por vários dias, se necessário.
"Com todas as medidas que foram implementadas e o planejamento, estamos muito confiantes de que as competições irão acontecer" disse ele aos jornalistas enquanto inspecionava a instalação de águas pluviais.
Três eventos-teste olímpicos tiveram que ser cancelados em julho e agosto devido a fortes chuvas.
Alguns nadadores, incluindo a campeã olímpica Ana Marcela Cunha, do Brasil, pediram um Plano B caso o Sena esteja muito sujo.
Hidalgo e o presidente Emmanuel Macron prometeram dar um mergulho no Sena antes dos Jogos de Paris para demonstrar que é seguro – pouco mais de um século depois que a natação pública foi proibida no local, em 1923. Hidalgo disse que isso aconteceria em junho.
"Daremos a data. Vamos definir um intervalo de tempo para fazer isso porque em junho pode haver bom tempo, mas também pode haver tempestades" disse ela.