OPINIÃO

Espírito democrático

Quando se fala em democracia é praticamente impossível desconsiderar o seu nascimento na cidade de Atenas. É bem verdade que em seu estágio prematuro, ainda tinha muito que avançar. A palavra democracia é a junção de dois termos de origem grega: démos e kratía. Em uma visão mais primitiva, demos significava vários distritos que formavam as dez tribos em que Atenas foi fracionada pelo legislador Clístenes, ainda no século VI a.C. Posteriormente, démos significou de maneira genérica “comunidade de cidadãos” ou “povo”. No que diz respeito à expressão kratía deriva de krátos, “poder”, “povo”. Conclui-se que democracia é o “poder de todos os cidadãos”. Vale salientar, que não são poucos os que desconsideram o modelo de democracia utilizado em Atenas pelo fato de que em média 10% eram os que possuíam autorização para participar das assembleias. Lembrando que os escravos, as mulheres e os estrangeiros não tomavam acento nas reuniões.

     O critério adotado para escolha dos representantes atenienses era mediante sorteio, visando à alternância do poder. Esse modelo é chamado de democracia direta, diferente do modelo atual que é denominada de democracia representativa. Sendo assim, apesar das limitações, a democracia grega presava pela igualdade, liberdade e participação. Alguns teóricos tentaram reviver o modelo de democracia criada pelos gregos, mas não obtiveram êxito. Porém, entre os pensadores que se apresentaram como apologistas de uma democracia mais ampla podemos mencionar o suíço (embora alguns pensem que era francês), Jean-Jacques Rousseau, durante o século XVIII. Na opinião do contratualista, a soberania popular é inalienável. 

     O advento do Iluminismo, embora lentamente, procurou se contrapor aos privilégios da nobreza. Aos poucos, entretanto, foi se proliferando a postulação de direitos universais, como ocorrera na França no período da república jacobina (1793 - 1795) e, no século XIX, posta em prática nos estados Unidos. Infelizmente, estamos vivendo uma fase em que o termo democracia se tornou algo corriqueiro, mas com práticas bem distantes do que ela representa.
 

Sem ódio e sem medo.

 

*Cientista político

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