Enchentes no Rio Grande do Sul já impactam preço da soja no mercado internacional; entenda
A posição julho da oleaginosa subiu mais 2,8%, passando de 446,44 para 458,84 dólares por tonelada; nas últimas quatro sessões de negociação, o aumento foi de 7,4%
As trágicas inundações que afetam grande parte do Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil, voltaram a ser hoje o principal impulso para a soja na Bolsa de Chicago, onde o valor da posição julho da oleaginosa aumentou 2,8%. Nas últimas quatro sessões, esse contrato acumulou um aumento de 7,4%.
Analistas brasileiros estimam que entre quatro e cinco milhões de toneladas de soja estejam em risco nos campos do Rio Grande do Sul, estado que na safra 2023/2024 ocuparia o segundo lugar entre os maiores produtores do Brasil, atrás apenas de Mato Grosso e à frente do Paraná.
Com uma colheita mais tardia do que em outras regiões do país, até o início do fenômeno climático restava colher cerca de 24% da área plantada, segundo o último levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Rio Grande do Sul, que estimava um volume total de 22,25 milhões de toneladas, um recorde histórico para o estado.
Além do que se prevê ser perdido nos campos, o mercado começou a somar as possíveis perdas dos grãos armazenados, algo que não poderá ser mensurado até que seja possível avaliar as condições nos silos. Da mesma forma, os graves danos na infraestrutura causados pela força das enchentes, que destruíram pontes, estradas e rodovias em seu caminho, dificultarão o transporte de grãos e outras mercadorias para diversos pontos comerciais mesmo após o fim das chuvas.
"Prevemos novos eventos de chuvas fortes até pelo menos 20 de maio, que devem afetar o norte e noroeste do Rio Grande do Sul, áreas de maior produção, e regiões do estado de Santa Catarina, o que prejudicará o final da colheita de soja e de outros cultivos, como milho - primeira safra - e arroz" disse Nadiara Pereira, meteorologista da empresa Climatempo, ao site brasileiro Notícias Agrícolas.
Além do papel de liderança que o Brasil possui como produtor e exportador de soja, o que significa que tudo o que afeta sua safra tem impacto direto nos preços internacionais, seu papel relevante como segundo maior fornecedor mundial de farelo de soja, atrás da Argentina, também influencia de forma determinante, nestes dias, o aumento do valor deste subproduto, dada a possibilidade concreta de que uma menor produção de soja reduza a moagem e, consequentemente, as exportações de farelo.
Hoje, a posição julho do farelo de soja em Chicago subiu 4,1%, passando de 410,28 para 427,25 dólares por tonelada, enquanto nas últimas quatro sessões o aumento acumulado foi de 10,1% em comparação com os 387,90 dólares no fechamento de 30 de abril.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) de 2023, o Rio Grande do Sul ocupa o terceiro lugar entre os maiores processadores de sementes oleaginosas do Brasil, atrás de Mato Grosso e Paraná, com uma capacidade instalada para processar 31.180 toneladas de grãos por dia e uma participação de 14,9% na moagem em nível nacional.
É importante destacar que o impacto positivo do inesperado fenômeno que o Brasil está enfrentando atualmente tem sido tão forte sobre os preços porque encontrou grandes fundos de investimento com uma posição vendida muito grande no mercado americano. Portanto, para reduzir essa posição, eles tiveram que acelerar a compra de contratos, tanto de soja quanto de farelo, e foram os responsáveis pelo movimento de alta. Segundo fontes privadas, hoje eles adquiriram cerca de 16 mil contratos de soja e 8 mil do subproduto.
Além da possibilidade de realização de lucros pelos investidores após os significativos aumentos acumulados em um período tão curto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos contribuiu hoje com um dado que pode fortalecer os preços da soja ao relatar um atraso no ritmo de plantio de grãos nos Estados Unidos para a safra 2024/2025.
Em seu relatório semanal sobre cultivos, o organismo relatou o progresso do plantio de soja em 36% da área prevista, contra 27% na semana anterior, 42% no mesmo período de 2023, uma média de 39% nos últimos cinco anos e uma estimativa de 39% pelos privados. Isso foi consequência das chuvas ocorridas durante grande parte da semana passada nas principais áreas produtoras do meio-oeste.