"Mesmo com limitação em supermercado, não há mais água sendo vendida", diz moradora de Porto Alegre
Advogada relata o passo-a-passo da tragédia, até a água começar a faltar nas casas
No início da semana passada, estava no Rio de Janeiro aproveitando uns dias de férias. O retorno ao Rio Grande do Sul estava agendado para quarta-feira, mas não houve autorização para pouso em razão das fortes chuvas que já assolavam o estado.
Consegui retornar no dia seguinte, quinta-feira, mal sabíamos, eu e os passageiros, que se tratava de um dos últimos aviões que pousaram no aeroporto, que hoje está completamente alagado e com as operações suspensas até o final do mês.
Confesso que não tinha dimensão do que viria pela frente, acredito que muitos poucos tinham.
Já na sexta-feira, com as águas do Rio Guaíba elevadas, começou um verdadeiro caos na cidade; o centro inundou, seguido de diversos outros alagamentos graves e muito rápidos na região metropolitana e em outros pontos da capital.
No sábado, fui ao supermercado, e mesmo momento, milhares de pessoas já estavam sem fornecimento de água em suas residências e haviam iniciado a busca por água potável para comprar, sendo que as prateleiras já estavam totalmente vazias e os engradados de água estavam sendo colocados no meio dos corredores, diante da impossibilidade dos funcionários organizarem nos locais corretos pois as pessoas estavam de prontidão para garantir seu estoque.
Mesmo com o supermercado limitando a quantidade de itens por consumidor, não há mais nada de água sendo vendida e as pessoas aguardam caso haja no estoque, ainda que os funcionários afirmem que não há mais nada.
Das seis Estações de Tratamento de Água da cidade, apenas duas estavam em funcionamento então. Mas no início da noite de ontem a quinta estação teve que ser desligada e consequentemente foi interrompido o fornecimento de água na minha casa.
Há locais com bicas, fontes e vertentes de água natural, fornecendo água que deve ser fervida antes do consumo considerando a possibilidade de existência de bactérias; também há recomendações para o uso da água de piscinas, que não tiveram contato com a inundação, para higiene e limpeza.
Tentei desde o início seguir as orientações das autoridades de que, mesmo quem tivesse fornecimento, economizasse, pois, a situação era muito crítica. Dicas compartilhadas via redes sociais ajudaram bastante, métodos de lavar a louça com pouca água, dicas para escovar os dentes usando um copo de água, a volta do álcool em gel para desinfetar as mãos, sempre que possível, além de banhos rápidos preferencialmente com bacia e caneca, foram algumas das dicas que usei para racionar, ainda que o fornecimento estivesse ocorrendo.
Apesar das soluções alternativas, me acompanha a angústia do restabelecimento do fornecimento da água, item essencial para sobrevivência, considerando que, não existe uma avaliação dos danos existentes, ainda, mesmo com a redução das chuvas e da inundação, o que for ser tratado ainda carregará, por algum tempo, vestígios de tudo que a enchente carregou e teve contato.
Além de tudo isso, é curioso pensar que usamos itens essenciais todo o momento, mas só valorizamos quando ficamos sem, ainda que eu tenha armazenado, me preocupa até quando terei água para cozinhar e até mesmo para beber. Será que as soluções alternativas serão suficientes para manter o consumo até a sua normalização? Não há respostas nesse momento tão conturbado.
De fato, o que vivemos no estado é o algo indescritível, mas para além do sentimento de tristeza que acompanha a tragédia, surge um sentimento de gratidão por estarmos a salvo e de solidariedade pois os abrigos estão lotados, mas contam com doações e voluntários, estando toda a população envolvida na superação desta situação.
O que vivemos no estado é de fato algo indescritível, mas para além do sentimento de tristeza que acompanha a tragédia, surge um sentimento de gratidão por estarmos a salvo e de solidariedade pois os abrigos estão lotados, mas contam com doações e voluntários, estando toda a população envolvida na superação desta situação.