Economia

Macron leva presidente chinês aos Pirineus para insistir sobre Ucrânia e comércio

Os dois dirigentes, acompanhados de suas esposas, chegaram no início da tarde ao Col du Tormalet

O presidente francês Emmanuel Macron (à esquerda) toma café ao lado do presidente chinês Xi Jinping (segundo à esquerda), sua esposa Peng Liyuan (terceira à esquerda) e Brigitte Macron (à direita) em um restaurante no passo do Tourmalet. - Aurelien Morissard / POOL / AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, e seu colega chinês, Xi Jinping, trocaram nesta terça-feira(7) o Palácio do Eliseu pelas montanhas do sul da França, em busca de um diálogo mais direto sobre a Ucrânia e suas divergências comerciais.

Os dois dirigentes, acompanhados de suas esposas, chegaram no início da tarde ao Col du Tormalet, mítica passagem do Tour de France, a 2.115 metros de altitude.

Os casais presidenciais foram recebidos por mulheres com trajes típicos que dançavam, com braços para o alto, ao ritmo marcado por uma flauta e um acordeão, enquanto nevava.

Peng Liyuan, a esposa de Xi Jinping, seguiu o ritmo com as mãos.

Macron pediu uma foto de recordação antes de entrar no restaurante de seu amigo pecuarista Éric Abadie e de oferecer ao seu contra-parte vários presentes: mantas de lã dos Pirineus, uma garrafa de Armagnac, boinas, uma camiseta amarela do Tour...

"Sei que gosta de esportes (...) Ficaríamos encantados de ter corredores chineses no Tour", disse o presidente francês a Xi, que iniciou na França sua primeira viagem à Europa desde 2019.

O mandatário chinês, que continuará seu giro europeu pela Sérvia e Hungria, prometeu promover o presunto local e confessou que gostava "muito dos queijos".

 Concorrência leal 

Com essa viagem, o líder liberal quer retribuir Xi, que o recebeu em 2023 com uma cerimônia do chá em Guangzhou, na residência oficial onde seu pai viveu quando era governador da província.

Macron espera "discussões frutíferas e amigáveis" neste cenário, que contrasta com a pompa de boas-vindas e o farto banquete na véspera em Paris, onde não esconderam suas divergências comerciais.

O francês pediu "um marco de concorrência leal" entre China e União Europeia, e a titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presente em uma das conversas, advertiu que tomaria "decisões firmes" para "proteger" a economia europeia.

Von der Leyen criticou, por exemplo, a chegada à UE de carros elétricos chineses altamente subsidiados.

"O chamado problema de 'sobrecapacidade da China' não existe nem da perspectiva da vantagem competitiva nem à luz da demanda mundial", respondeu o dirigente comunista.

Em relação à Ucrânia, Xi se mostrou mais conciliador, ao reafirmar sua vontade de trabalhar por uma solução política. Também apoiou uma "trégua olímpica" de todos os conflitos durante os Jogos em julho e agosto em Paris.

Segundo uma fonte diplomática francesa, essa trégua pode servir, no caso da Ucrânia, para lançar um processo mais político após mais de dois anos de conflito, iniciado com a invasão russa em fevereiro de 2022.

Paris quer que Pequim, principal aliado da Rússia, pressione Moscou a colaborar para o fim da guerra, embora esteja consciente das poucas possibilidades de uma rápida resposta. Xi deverá receber seu homólogo russo, Vladimir Putin, em breve.

 "Sedução" 

A visita aos Pirineus poderia, de acordo com a delegação francesa, incentivar uma “discussão franca e amigável” sobre essas questões delicadas. O objetivo é quebrar o protocolo imponente que acompanha o líder do gigante asiático.

O Col du Tourmalet está “diretamente ligado à história muito pessoal de Macron”, explica sua comitiva. O líder, que está comemorando o sétimo aniversário de sua primeira eleição na terça-feira, passou muitas férias com seus avós nessa região.

"A diplomacia de Emmanuel Macron sempre apostou, talvez excessivamente, no poder de sedução", analisa Bertrand Badie, especialista em Relações Internacionais da Universidade Sciences Po.

Macron "sempre teve a ideia de que suas relações pessoais podem romper barreiras", explica Badie. O cenário intimista do Tourmalet faria parte deste objetivo.

"Mas isso significa não conhecer bem Xi Jinping, que não é muito sentimental", alerta.