CIÊNCIA

A arte de restaurar fósseis, um ''quebra-cabeça'' milenar nos EUA

Alguns dos restos encontrados podem ter mais de 60 milhões de anos

Esqueletos de dois dinossauros - Stephane de Sakutin / AFP

Antes de serem expostos em um museu, os fósseis de dinossauros passam por artistas que precisam remover a terra, reconstruí-los e pintá-los de forma que fiquem perfeitos aos olhos humanos. Para a restauradora Lauren McClain, é como montar um quebra-cabeça em 3D.

Em seu ateliê instalado no segundo andar de sua casa no bairro de Kingwood, no nordeste de Houston, Texas, Lauren utiliza uma espécie de mini-furadeira conectada a um compressor, semelhante à ferramenta de um dentista, para remover cuidadosamente as partículas de solo presas a esses restos que podem ter mais de 60 milhões de anos.

Uma vez limpo, ela deve montar este "quebra-cabeça" milenar, que muitas vezes não chega completo. Ela modela as partes faltantes de um fêmur de Tiranossauro, um dedo ou uma tíbia de Triceratops, o fêmur de um Edmontossauro ou os dentes de um Megalodonte.

McClain também já trabalhou em um fóssil de Euriptéride (conhecido como escorpião marinho) de 200 milhões de anos.

"As pessoas me dizem: você deve ser boa em quebra-cabeças, e na verdade eu não gosto muito deles. Mas quando se trata de um quebra-cabeça em 3D que se transforma em um dinossauro, eu gosto", explica a profissional de 33 anos.

"É semelhante porque, quando você tem algo em cem peças, realmente precisa estudar todas essas bordas e como elas se alinham e aprimorar esses detalhes para reconstruí-lo e transformá-lo no que era", acrescenta.

Vários desses gigantescos seres habitaram o que hoje é a América do Norte. Estados como Montana, Dakota do Norte e do Sul, Colorado, Flórida e Califórnia costumam ser atraentes para quem procura fósseis.

Fêmur pré-histórico
Fascinada da saga Jurassic Park desde criança, Lauren se casou no Museu de Ciências Naturais de Houston, onde grandes esqueletos de dinossauros são expostos.

Ela se formou como designer e, paralelamente ao seu trabalho formal, começou a fazer escavações há alguns anos. Com a ajuda de mentores e paleontólogos profissionais, ela ingressou no negócio de restauração e montou seu empreendimento: Big Sky Fossils.

Há sete meses, ela deixou seu emprego de escritório e se dedica apenas aos fósseis. Recentemente, recebeu de um museu do Texas o domo craniano de um paquicefalossauro.

Enquanto busca um espaço maior para expandir seu ateliê, ela restaura na garagem de sua casa um fêmur de hadrossauro. A peça mede 1,30 m, quase o tamanho de Lauren (1,60 m).

Ela reconstrói o fêmur colocando uma haste de metal interna para dar estabilidade. Depois da limpeza, ela cola as peças com uma cola potente e usa massa epóxi para preencher os espaços vazios. Ao terminar, ela precisa pintá-lo com alguma cor semelhante à original.

"Restaurar peças faltantes de fósseis costuma ser a parte mais difícil porque não é apenas necessário entender a anatomia desse dinossauro específico, mas também é preciso ter uma boa referência. Falo com muitos paleontólogos para fazer isso direito", explica Lauren.

Paciência e observação
O curador de Paleontologia do Museu de Ciências Naturais de Houston, David Temple, afirma que os filmes fazem as pessoas acreditarem que os fósseis são encontrados intactos na terra.

"A realidade é outra. Todo fóssil que é encontrado precisa de certo grau de curadoria, restauração e consolidação, porque até mesmo o ato de retirá-lo da terra é destrutivo", defende Temple, nos corredores do período Cretáceo do museu.

Uma vez restaurados, os fósseis também são usados para fabricar réplicas que são expostas em diferentes lugares.

"Muitos paleontólogos preparam seus próprios fósseis, mas nem todos, e reconhecem que as pessoas que realizam esse trabalho (de restauração) têm uma habilidade especializada", acrescenta.

"Se você ver alguns de nossos trilobitas (artrópode marinho extinto), não muitas pessoas no mundo fazem isso (limpeza e restauração). A paciência é importante, a observação é importante e estar disposto a aprender", assegura.

E é preciso ter cuidado, diz ele. Às vezes, quando alguém cola partes do osso que não se encaixam, brincam dizendo que inventaram "uma nova espécie".