TRAGÉDIA

Sobe para 100 o número de mortos por enchentes no Sul, diz Defesa Civil

Outras 372 ficaram feridas e 128 estão desaparecidas nas inundações

Rio Grande do Sul vive tragédia sem precedentes - Carlos Fabal/AFP

O número de mortes pelas históricas enchentes no sul do Brasil alcançou, nesta quarta-feira (8), 100 mortos e as autoridades pedem aos afetados que não voltem para as zonas de risco.

Segundo a Defesa Civil, pelo menos 100 pessoas morreram, 372 ficaram feridas e 128 estão desaparecidas nas inundações provocadas por transbordamento de rios após as chuvas torrenciais da última semana no estado do Rio Grande do Sul.

As autoridades insistiam nesta quarta-feira para que os habitantes não retornassem para as áreas de risco e alertavam sobre a possibilidade de instabilidade nos terrenos e de perigos para a saúde.

"As águas contaminadas podem transmitir doenças", diz a jornalistas Sabrina Ribas, porta-voz da Defesa Civil.

Em mais de 400 municípios afetados, incluindo Porto Alegre, mais de 160.000 pessoas foram retiradas de suas casas por esse desastre climático, cuja violência especialistas e o governo brasileiro vinculam à mudança climática.

100 mil casas danificadas ou destruídas
Quase 100 mil casas foram danificadas ou destruídas pela força da natureza. Os danos econômicos ultrapassam 4,6 bilhões de reais, segundo estimativa da Confederação Nacional dos Municípios.

O rio Guaíba, que transbordou sobre Porto Alegre, baixou para 5,14 metros nesta quarta-feira, mas a situação ainda é instável.

Na zona do Gasômetro, um dos tradicionais pontos turísticos da cidade, as águas ainda subiam nesta quarta-feira e os socorristas voluntários tiveram dificuldades em atravessar as ruas alagadas.

"Só cruzar caminhando ou de barco. Não tem jeito", disse à AFP Luan Pas, de 30 anos, em sua caminhonete a poucos metros das águas que inundam ruas e calçadas nesta zona do oeste da cidade.

"Universo paralelo"
A poucos metros de distância, em uma rua que se tornou um lago de água parada, voluntários com lanchas e jetskis se preparam para iniciar mais um dia de resgate daqueles que ainda estão presos em suas casas ou simplesmente não quiseram deixá-las por medo de roubo.

Mais de uma semana depois do início das chuvas, sem correntes para movimentar as águas, o odor é nauseante em uma cidade que tem áreas convertidas em verdadeiros lixões. As operações no porto de Porto Alegre permanecem suspensas.

Após o fechamento por tempo indeterminado do aeroporto internacional, a base militar de Canoas receberá voos comerciais para transportar doações e passageiros que retornam ao estado, informou a Força Aérea.

Em uma esquina do centro histórico de Porto Alegre, em uma área a salvo das águas, dezenas de pessoas usavam um gerador alugado por uma farmácia para carregar seus celulares, ferramenta vital para entrar em contato com familiares e amigos em meio ao caos.

"Isso é um universo paralelo", resume a professora universitária Daniela da Silva, de 30 anos.

Alerta por novas chuvas
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para tempestades de "perigo potencial" no sul do estado até quarta-feira, com chuvas e ventos intensos. As precipitações devem continuar, com "aguaceiros" de sexta a domingo na região de Porto Alegre.

A emergência no Brasil coincide com a publicação nesta quarta-feira de um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que destaca um recorde de perigos climáticos na América Latina e no Caribe em 2023 em decorrência do fenômeno El Niño e dos efeitos do aquecimento global por influência da atividade humana.

Devido ao aquecimento, os eventos extremos ou raros "são cada vez mais frequentes e mais extremos e é de se esperar que isso continue" no Brasil, disse à AFP José Marengo, coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).