Palestina conquista vitória simbólica para se tornar membro pleno da ONU
A resolução, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, foi aprovada por 143 países
A Assembleia Geral da ONU votou por esmagadora maioria, nesta sexta-feira (10), a favor da adesão da Palestina como membro de pleno direito da ONU, uma decisão não vinculante, embora simbólica, que despertou a fúria de Israel e que contou com a oposição de países como Estados Unidos e Argentina.
A resolução, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, foi aprovada por 143 países. Vinte e cinco se abstiveram e nove votaram contra, entre estes EUA, Israel, Argentina, República Tcheca e Hungria.
"Estive nesta tribuna centenas de vezes, frequentemente em circunstâncias trágicas, mas nenhuma comparável à qual o meu povo vive atualmente", disse o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour.
"Nunca houve uma votação mais importante do que a de hoje, histórica", acrescentou ele, com a voz embargada pela emoção.
Em Ramallah, a Autoridade Palestina declarou que o resultado demonstra que a Palestina "merece ser membro pleno" das Nações Unidas.
Esta resolução terá "um impacto importante no futuro do povo palestino", embora, por si só, "não faça justiça ao Estado palestino", disse o embaixador emiradense, Issa Abushahab, em nome dos países árabes.
Em plena guerra entre Israel e Hamas em Gaza, os palestinos, que desde 2012 têm na ONU status de "Estado não membro observador", relançaram, no início de abril, seu pedido de 2011 de se tornar membro pleno da organização.
Para isso, é necessária a recomendação positiva do Conselho de Segurança, mas os Estados Unidos a vetaram em 18 de abril.
Agora, os palestinos decidiram recorrer à Assembleia Geral, onde precisavam da votação favorável de dois terços dos 193 Estados para aprovar uma resolução apresentada pelos Emirados Árabes Unidos.
Esta resolução considera que "o Estado da Palestina se qualifica para a adesão às Nações Unidas" e insta o Conselho de Segurança a "reexaminar a questão favoravelmente".
Mas os Estados Unidos, que se opõem a qualquer reconhecimento fora do acordo bilateral entre palestinos e seu aliado israelense, alertaram, nesta sexta, que se esse assunto voltar ao Conselho de Segurança, o resultado será "similar ao de abril".
A votação mostrou a divisão dos países europeus sobre o tema. Além dos que votaram contra - Hungria, República Tcheca -, outros se abstiveram, como Áustria, Albânia, Suécia, Romênia, Croácia, Itália, Finlândia, Letônia e Reino Unido.
Precedente?
"Poderíamos acabar em uma espécie de ciclo diplomático fatal, com a Assembleia pedindo repetidamente ao Conselho que aceite a adesão da Palestina e os EUA vetando-a", explicou Richard Gowan, analista do International Crisis Group.
No entanto, o texto concede imediatamente uma série de "direitos e privilégios adicionais" aos palestinos a partir da 79ª sessão da Assembleia, em setembro.
Embora exclua inequivocamente o direito de voto e de se eleger membro do Conselho de Segurança, o documento permitirá que a Palestina apresente diretamente propostas e emendas sem passar por um terceiro país ou se sentar entre os Estados-membros por ordem alfabética.
Ainda que essas sejam medidas simbólicas, Israel, cujo governo rejeita a solução de dois Estados, atacou a resolução.
Em Jerusalém, o governo reagiu, dizendo que a aprovação da resolução recompensa a violência.
A decisão "recompensa os assassinos e estupradores do Hamas e mina os esforços para libertar os reféns" nas mãos do movimento islamista palestino desde 7 de outubro, escreveu o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, na rede social X. "A mensagem que a ONU envia a uma região cheia de dor é que a violência compensa", acrescentou.
"Isso me deixa doente", disse o embaixador israelense Gilad Erdan na tribuna da ONU, onde acusou a Assembleia de "conceder direitos de Estado a uma entidade parcialmente controlada por terroristas".
"Com esse novo precedente, poderíamos ver representantes do Estado Islâmico ou do Boko Haram sentados entre nós aqui", disse ele, em alusão a dois grupos considerados extremistas pela comunidade internacional.
"Reduz a Carta a pedaços. É vergonhoso!", concluiu, depois de usar um triturador de papel para destruir o documento em um de seus habituais golpes de efeito.
Os Estados Unidos expressaram reservas sobre a iniciativa, acreditando que "ações unilaterais na ONU e no terreno" não promoveriam uma paz duradoura nem a solução de dois Estados.
Em dezembro, 153 dos 193 países apoiaram o pedido de cessar-fogo imediato em Gaza, frente a 10 contra e 23 abstenções.