LUTO

Morre o ator Paulo César Pereio, ícone da rebeldia, aos 83 anos

Ator, que atuou em mais de 60 filmes, vivia no Retiro dos Artistas desde 2020

Paulo César Pereio no programa 'Sem frescura', do Canal Brasil - Foto: Divulgação

Conhecido por seu comportamento imprevisível e sua rebeldia incorrigível, o ator Paulo César Pereio morreu na tarde deste domingo (12), aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava em tratamento de doença hepática avançada, em estado grave, e havia dado entrada de madrugada no Hospital Casa São Bernardo, na Barra da Tijuca.

Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940, Pereio atuou em mais de 60 filmes, trabalhando com diretores como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana e Ruy Guerra.

Pereio tinha como inspiração o ator americano Humphrey Bogart, símbolo da masculinidade dos anos 1940 e 1950. Como Bogart, Pereio abusava de seu vozeirão e da forte presença em cena.

O ator começou a se destacar a partir de sua associação com Ruy Guerra, no elogiado "Os fuzis". Embora tenha saído brigado com o diretor, iniciou durante as filmagens a sua longa amizade com Hugo Carvana, que também se tornaria uma figura marcante do Cinema Novo. Quatro anos depois, com "O Bravo Guerreiro" (1968), de Gustavo Dahl, Pereio aprofundou sua relação com o cinema de vanguarda no Brasil, que alcançava o seu auge.

Na pós-produção de "Os fuzis," Pereio conheceu Glauber Rocha, com lhe convidaria para fazer uma pequena participação em "Terra em Transe" (1967). A ligação com o Cinema Novo continuaria ao longo dos anos 1970, trabalhando com diretores como Joaquim Pedro de Andrade ("Os Inconfidentes" ), Cacá Diegues ("Chuvas de Verão") e Arnaldo Jabor ("Toda Nudez Será Castigada" e "Eu Te Amo" (1981).

Nos anos 1970, trabalharia ainda em filmes experimentais como "Bang Bang" (1971), de Andrea Tonacci, que não chegou a ser programado no circuito comercial brasileiro.

Além do cinema, Pereio brilhou no teatro durante 60 anos, entre 1956 e 2016. Atuou em espetáculos marcantes como "Roda viva" e "As bacantes", de Zé . Em 1974, dirigiu a penúltima peça de Nelson Rodrigues, "O anti-Nelson Rodrigues".

- O Pereio foi o ator que mais trabalhou nessa vida - diz o ator e amigo de longa data Stepan Nercessian. - Ele não descansava. Onde estivesse, estava o Teatro.

Nercessian é presidente do Retiro dos Artistas, onde Pereio residia desde 2020, após uma existência de excessos e brigas, bebidas, drogas, polêmicas... Assim como fazia em cena, o ator vivia à flor da pele.

A sua personalidade difícil é retratada em "Pereio, eu te odeio" (2023), dirigido por Tasso Dourado e Allan Sieber. O longa retrata as excentricidades do ator e o sentimento de amor e ódio que inspirava entre seus próximos, como a ex-mulher Cissa Guimarães, com quem teve os filhos João Velho e Tomás Velho. Em outubro de 2023, Pereio saiu de sua reclusão do Retiro dos Artistas e compareceu para a sessão do documentário no Festival do Rio. Acompanhado de Cissa e dos filhos, foi aplaudido pelo público.

- Nem sei o que dizer, estou tonto com a notícia... - lamentou Sieber. - Muito triste que essa pessoa tão genial, original, verdadeira e mestre do seu oficio se foi. Tive muita sorte de ter convivido com ele. Ele sempre foi muito generoso e carinhoso. O último de uma espécie.

"Perdemos um ícone do nosso cinema", escreveu a atriz Zezé Mota em seu Twitter. "Descansa meu amado Pereio. Quantos trabalhos icônicos e marcantes na TV, teatro e no cinema"