CONFLITO

Rússia prossegue com ofensiva no nordeste da Ucrânia, mas Kiev garante que resiste

As tropas russas cruzaram a fronteira na sexta-feira numa ofensiva contra Lipsi e Vovchansk

Prédio destruído após um ataque de mísseis russos no centro de Kiev - Anatolii Stepanov/AFP

Os combates prosseguiram nesta segunda-feira (13) na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, onde o Exército russo lançou uma ofensiva e ocupou dezenas de quilômetros quadrados, mas Kiev afirma que está resistindo e que reforçou a área.

As tropas russas cruzaram a fronteira na sexta-feira numa ofensiva contra Lipsi e Vovchansk, duas cidades localizadas respectivamente a cerca de 20 e 50 quilómetros a nordeste de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia.

As autoridades de Kiev vinham alertando há semanas que Moscou poderia tentar atacar as regiões de fronteira do nordeste, enquanto a Ucrânia continua à espera da ajuda ocidental e sofre com a escassez de soldados. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse num discurso à tarde que as suas tropas estavam lançando “contra-ataques” e que a área havia sido reforçada.

“Estamos destruindo a infantaria e o equipamento do ocupante”, disse ele.

Zelensky também relatou “grupos de sabotagem” e “ataques” contra as regiões fronteiriças de Sumy e Chernihiv, no norte da Ucrânia.

Numa entrevista à AFP, o chefe da segurança nacional ucraniana, Oleksandr Lytvynenko, indicou que “mais de 30 mil” soldados russos participam da ofensiva.

Apesar disso, Lytvynenko garantiu que neste momento não há “ameaça” para a cidade de Kharkiv, situada a cerca de 30 quilômetros da zona de combate e que antes da invasão russa tinha quase um milhão e meio de habitantes.

"Ataques carniceiros"
"Eles estão realizando ataques 'carniceiros', enviando todo o seu equipamento (...) e seus drones estão muito ativos", disse nesta segunda-feira à AFP um soldado ucraniano na localidade de Ruski Tyshky.

O militar, que não quis revelar o seu nome, se referia às ondas de ataques mortais já utilizadas pela Rússia no passado. Outro soldado do mesmo batalhão disse que bombas aéreas guiadas russas estavam caindo em massa na área.

“A situação está sob controle, mas é muito relativa [...] tudo pode mudar de um minuto para o outro”, disse, também sem revelar o seu nome, apelando aos aliados ocidentais de Kiev para que enviem mais armas.

O governador da região de Kharkiv, Oleg Sinegubov, garantiu que mais de 30 cidades estão sob fogo russo. Sinegubov afirmou que 5.762 habitantes foram evacuados desde o início dos combates.

Segundo o canal DeepState Telegram, próximo ao Exército ucraniano, os russos conseguiram ocupar cerca de 70 km2 na região de Lipsi e 34 km2 em Vovchansk.

As autoridades regionais também relataram um morto e três feridos em um bombardeio contra uma aldeia a oeste de Kharkiv, a cerca de 30 km da zona de combate.

"Horrível"
Na localidade de Ruski Tyshky, a sete quilómetros de Lipsi, repetidas explosões puderam ser sentidas à distância, notou a AFP. Katerina Stepanova, 74 anos, foi evacuada de Lipsi com o filho.

Várias bombas explodiram em sua rua. “Fugi com o que vestia, roupa suja [...]. Felizmente, pelo menos estamos vivos”, disse à AFP, em um primeiro ponto de encontro dos evacuados. "É tão horrível o que está acontecendo lá. O que esses idiotas estão fazendo? As casas estão queimando", lamentou.

Segundo o canal Telegram Rybar, próximo ao Exército russo, “não foi registrado nenhum avanço em grande escala das defesas inimigas” após quatro dias de ofensiva.

“Depois de limpar a zona fronteiriça 'cinzenta', as unidades de assalto russas concentraram-se em adentrar nos redutos e nas linhas defensivas das forças armadas ucranianas”, afirmou o canal.

Intensificação dos bombardeios
Este avanço russo ocorre após o presidente Vladimir Putin destituir no domingo o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, após dois anos de conflito na Ucrânia sem um resultado claro.

O novo ministro, Andrei Belousov, tem formação em economia e, tal como Shoigu quando foi nomeado em 2012, não tem experiência militar.

Com a decisão, Putin se prepara para uma "guerra de longo prazo. [...] também contra todo o Ocidente, uma guerra contra a Otan", afirmou Lytvynenko.

Dentro da Rússia e nas áreas ocupadas da Ucrânia, as tropas ucranianas intensificaram os bombardeios, especialmente contra instalações energéticas.

Pelo menos quatro pessoas morreram e sete ficaram feridas nesta segunda-feira em bombardeios atribuídos à Ucrânia na região ocupada de Lugansk (leste) e na região russa de Kursk, anunciaram as autoridades de Moscou.

A defesa ucraniana também assumiu a responsabilidade pelo bombardeio de um terminal petrolífero na região russa de Belgorod e de uma subestação elétrica em Lipetsk.

Não houve confirmação do ataque por parte das autoridades russas em Belgorod, mas o governador de Lipetsk comentou que uma subestação foi incendiada sem dar detalhes ou culpar diretamente a Ucrânia.

A cidade de Krasnodon, localizada perto da fronteira com a Rússia, a cerca de 45 quilómetros a sudeste de Lugansk, a capital regional, está sob controlo russo desde 2014.