ENCHENTES

Lula diz que país não estava preparado para desastre no Sul, que enfrenta novas cheias

Presidente suspendeu uma viagem oficial ao Chile prevista para os próximos dias 17 e 18, diante da necessidade de acompanhar a situação

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Novas cheias de rios e lagos prolongaram hoje o drama no Sul do país, aonde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajará na próxima quarta-feira (15), após reconhecer, em reunião com o ministro Fernando Haddad e com o governador Eduardo Leite, que as autoridades não estavam preparadas para uma catástrofe dessa dimensão.

O número de vítimas da catástrofe climática que atinge o Rio Grande do Sul voltou a aumentar hoje, com 147 mortos, 127 desaparecidos e 806 feridos. Seiscentas mil pessoas tiveram que deixar suas casas, segundo a Defesa Civil.

Lula suspendeu uma viagem oficial ao Chile prevista para os próximos dias 17 e 18, diante da necessidade de acompanhar a situação, informou a Presidência.

Apesar da redução das chuvas, Eduardo Leite pediu que os moradores não voltem para casa, principalmente em Porto Alegre e seus arredores, onde o nível do rio Guaíba pode atingir um novo recorde.

O nível do rio, em cujas margens se situam em cidades devastadas, superou 5 metros pela primeira vez desde a última quinta-feira e segue aumentando, devido às chuvas do fim de semana. Segundo a Defesa Civil, ele pode ultrapassar o pico histórico de 5,35 metros atingido no último dia 5.

Ajuda para recomeçar
Diante da cheia do Guaíba, a Prefeitura de Porto Alegre ergueu uma barreira com sacos de areia em uma avenida do centro, para evitar que a enchente atinja uma estação de bombeamento de água, o que poderia piorar o serviço, já precário, em cerca de 30 bairros da cidade.

Moradores do bairro Harmonia, em Canoas, retiravam pertences de seus lares devido à cheia. "A água nunca baixou. Peguei aquela enchente de outubro e esta de agora. Perdi tudo desta vez", contou o pedreiro Alcedir Alves, 58.

Mais de 77 mil pessoas estão em abrigos montados em escolas, clubes e outros estabelecimentos devido ao desastre, que especialistas e o governo vinculam às mudanças climáticas e ao fenômento El Niño. A situação vai se complicar com a chegada de uma frente fria, alertou hoje a agência meteorológica MetSul.

Autoridades trabalham para distribuir suprimentos e doações enviados de todo o país e do exterior. As famílias mais afetadas vão receber 2 mil reais para começar a reconstruir suas vidas, anunciou Eduardo Leite.

Indígenas afetados
Lula anunciou uma proposta, que tem que ser aprovada no Congresso, para suspender por 36 meses o pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União, que, segundo Leite, tornou-se “um torniquete insuportável” diante da tragédia.

A vida no estado mudou abruptamente, com quase 360.000 estudantes sem aulas e o atendimento médico sendo realizado em hospitais de campanha. Rodovias importantes continuam total ou parcialmente bloqueadas.

Jornalistas da AFP constataram o bloqueio de uma via de acesso a Lajeado, na região do Vale do Taquari, fortemente atingida no centro do estado. O aeroporto internacional Salgado Filho segue debaixo d'água.

Efeito na Argentina
O fluxo da água no Sul teve impacto em outros países da Bacia do Rio da Prata. Cerca de 600 pessoas foram evacuadas na província argentina de Entre Ríos devido a inundações causadas pela cheia do rio Uruguai, segundo autoridades.

Moradores da zona ribeirinha de Concordia foram levados para centros de assistência ou domicílios particulares. O prefeito Francisco Azcué informou que o pico da cheia é esperado para amanhã e pediu calma à população.