Novos bombardeios israelenses matam 80 em Gaza e 450 mil fogem em Rafah
A guerra entre Israel e o Hamas entra em seu oitavo mês
Os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza deixaram mais de 80 mortos nas últimas 24 horas, anunciou o Hamas nesta terça-feira (14), enquanto 450 mil palestinos tiveram que fugir de áreas atacadas de Rafah, cidade onde Israel ameaça iniciar uma grande ofensiva.
A guerra entre Israel e o Hamas entra em seu oitavo mês, enquanto Israel comemora, nesta terça, o 76º aniversário da criação de seu Estado.
No pequeno território palestino cercado e devastado por bombardeios e combates entre soldados israelenses e integrantes do Hamas, a população civil, forçada a diversos deslocamentos desde o início da guerra, retorna às estradas para tentar encontrar refúgio, embora a ONU afirme que "não há lugar seguro em Gaza".
Na madrugada desta terça-feira, testemunhas e correspondentes da AFP observaram ataques em vários setores da Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Rafah, no extremo sul, onde estão reunidos quase 1,4 milhão de palestinos, a grande maioria deslocados.
Nas últimas 24 horas, ao menos 82 palestinos morreram em Gaza, o que eleva a 35.173 o número de mortos, a maioria civis, desde o início da guerra, informou o Ministério da Saúde do Hamas.
De acordo com a ONU, "450 mil pessoas foram deslocadas à força" desde que o Exército israelense ordenou a evacuação de civis no leste de Rafah em 6 de maio.
"Muito assustador"
"Estão exaustos, famintos e constantemente assustados", disse a agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNRWA.
Combates acontecem nesse setor, onde as tropas israelenses entraram com tanques no dia 7 de maio, tomaram a passagem de fronteira de mesmo nome e bloquearam esta entrada crucial para os comboios humanitários que transportam ajuda para uma população ameaçada pela fome em Gaza, segundo a ONU.
Os bombardeios também atingem o oeste de Rafah, uma cidade constantemente sobrevoada por caças israelenses, de acordo com testemunhas.
"Os bombardeios e ataques aéreos são contínuos. É muito assustador. Tenho medo pelos meus filhos", declarou à AFP Hadil Radwane, 32 anos, deslocado do oeste de Rafah.
No norte da Faixa, os palestinos também receberam ordens para abandonar algumas áreas após o recomeço dos combates, em particular em Jabalya e na Cidade de Gaza, onde, segundo o Exército, o Hamas tenta "recuperar suas capacidades militares".
Após o ataque de 7 de outubro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007 e que ele considera uma organização terrorista, mesma classificação atribuída ao grupo por Estados Unidos e União Europeia.
Para concretizar seu objetivo, Netanyahu está determinado a iniciar uma grande operação em Rafah, onde, afirma ele, estão entrincheirados os últimos batalhões do grupo islamista.
"Um erro"
O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, duvida que uma operação em Rafah consiga eliminar o movimento palestino.
Para a Casa Branca, "seria um erro iniciar uma grande operação militar no coração de Rafah, que colocaria em perigo um grande número de civis sem um benefício estratégico claro".
A Corte Internacional de Justiça, por sua vez, anunciou que realizará audiências nesta semana sobre a ofensiva em Rafah, a pedido da África do Sul, que exige que Israel retire suas tropas dessa cidade.
O ataque de 7 de outubro de milicianos do Hamas, que invadiram o sul de Israel procedentes de Gaza, matou mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em informações oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas durante o ataque e 128 permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 36 teriam sido mortas, de acordo com o Exército. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza.
Quanto às negociações para alcançar uma trégua, o primeiro-ministro do Catar, país mediador, disse nesta terçaa que a operação em Rafah fez o diálogo com o Hamas "regredir" e agora está em uma situação "quase de estagnação".
O governo do Catar afirmou ainda que nenhuma ajuda humanitária conseguiu entrar em Gaza desde 9 de maio e denunciou uma "catástrofe humanitária".
Em Israel, a polícia iniciou uma investigação depois que um grupo de ativistas bloqueou e destruiu pelo menos sete caminhões de ajuda humanitária destinados à Faixa.