GUERRA

Com dados ainda incompletos, ONU reduz pela metade contagem de mulheres e crianças mortas em Gaza

Mudança ocorre porque as Nações Unidas passaram a citar uma fonte mais conservadora, o Ministério da Saúde de Gaza. Identidade de mais de 10 mil mortos não pôde ser averiguada

Palestinos enterram seus mortos após ataques aéreos israelenses - Said KhatibSAID/AFP

As Nações Unidas agora citam um número de mortes muito menor para mulheres e crianças em Gaza, confiando em uma fonte mais conservadora para a divisão das pessoas mortas durante a ofensiva militar de Israel no território, iniciada após os ataques de outubro passado. Até recentemente, em 6 de maio, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, sigla em inglês) disse em seu relatório on-line regularmente atualizado que pelo menos 9.500 mulheres e 14.500 crianças estavam entre os mortos, de um total de 34.735 mortos.

Dois dias depois, a ONU disse em outra atualização que 4.959 mulheres e 7.797 crianças haviam sido mortas. Enquanto o número total de mortes permanecia mais ou menos o mesmo, um funcionário da ONU disse que a idade e o sexo de cerca de 10 mil dos mortos ainda não estavam incluídos na nova contagem porque as informações sobre suas identidades estavam incompletas.

A mudança nos números da ONU, e a confusão sobre a discrepância, acrescentou combustível a um debate sobre a credibilidade das contagens de fatalidades das autoridades de Gaza na guerra. As mortes de mulheres e crianças são vistas como uma indicação importante, embora incompleta, de quantos civis foram mortos, uma questão que está no centro do debate sobre a conduta de Israel no conflito.

Autoridades israelenses há muito tempo dizem que são céticas em relação aos números reunidos pelas autoridades em Gaza, controlada pelo grupo terrorista Hamas. Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que as forças israelenses mataram 14 mil combatentes do Hamas e 16 mil civis, sem dar detalhes sobre a fonte desses números.

Depois que as Nações Unidas emitiram um número de mortes menor para mulheres e crianças, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, chamou os novos números de "a ressurreição miraculosa dos mortos em Gaza", dizendo que as Nações Unidas haviam confiado em "dados falsos de uma organização terrorista".

A mudança ocorreu porque as Nações Unidas passaram a citar uma fonte mais conservadora para seus números, o Ministério da Saúde de Gaza, em vez de usar o Escritório de Mídia do Governo de Gaza, como fez nas últimas semanas. Ambos os escritórios fazem parte do governo controlado pelo Hamas no enclave.

Muitos funcionários e especialistas internacionais familiarizados com a forma como o Ministério da Saúde verifica as mortes em Gaza (retirando de necrotérios e hospitais em todo o território) dizem que seus números são geralmente confiáveis.

O Ministério da Saúde diz que sua contagem de mulheres e crianças mortas é baseada no número total de pessoas cujas identidades ele pode verificar completamente: 24.840 indivíduos no total, até 13 de maio.

Mais de 10 mil outras pessoas também foram mortas, diz o órgão, mas sem seus nomes completos, números de identificação oficial ou outras informações necessárias para ter certeza de suas identidades. É por isso que eles não estão incluídos na divisão de mulheres e crianças mortas que está sendo citada agora pela ONU.

— Há cerca de mais 10 mil corpos que ainda precisam ser totalmente identificados — disse Farhan Haq, porta-voz da ONU, na segunda-feira. — Os detalhes desses, quais deles são crianças, quais deles são mulheres, serão reestabelecidos assim que o processo de identificação completo for concluído.

As Nações Unidas disseram que o processo de identificação completa dos 10 mil mortos — junto com seu sexo e idade — estava "em andamento".

Haq também afirmou que a ONU estava contando com os dados provenientes do Ministério da Saúde como fez "em todos os conflitos anteriores". Ele acrescentou que a ONU havia começado a usar números do escritório de mídia do Hamas porque houve uma pausa na comunicação do Ministério da Saúde. Mas agora que o relatório de vítimas estava de volta, ele disse, a ONU voltou a usar suas informações.