"Megalopolis", aguardado filme de Francis Ford Coppola, faz barulho no Festival de Cannes
Cineasta trabalha há décadas na produção
Outra obra-prima emergindo do caos ou apenas uma bagunça caótica? Um dos diretores mais mitificados de Hollywood, Francis Ford Coppola, retornou ao Festival de Cannes nesta quinta-feira (16) com o quase impossivelmente badalado “Megalopolis”.
Ele já esteve nesta posição antes, há 45 anos, quando as filmagens de “Apocalypse Now” se transformaram em um caos lendário e pareciam destinadas ao desastre. Em vez disso, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, tornou-se um dos filmes mais celebrados de todos os tempos e poliu a reputação que Coppola conquistou com "O poderoso chefão".
Será que a história se repetirá quando Coppola, de 85 anos, retornar à Côte d'Azur francesa para estrear "Megalopolis", um projeto de US$ 120 milhões que ele autofinanciou com a venda de parte de sua vinícola na Califórnia e que está em gestação há cerca de 40 anos?
O longa é anunciado como um épico da Roma Antiga transplantado para a América moderna, com Adam Driver como um arquiteto visionário que busca reconstruir uma cidade em ruínas. A imponente narração do trailer entoa: "Quando um império morre? Ele entra em colapso em um momento terrível? Não, não, mas chega um momento em que seu povo não acredita mais nele."
Coppola — que também ganhou a Palma de Ouro em 1974 por “A conversação” — não mostra preocupação com o fato de a sua própria reputação imperial estar a se desmoronar. Em declaração à Vanity Fair, ele deu uma lista de mais de 40 influências para o filme que incluía Voltaire, Platão, Shakespeare, Hitchcock, Kubrick, Kurosawa, "Moisés e os profetas, todos incluídos".
Mas as histórias de greves de equipe e reclamações sobre o comportamento maníaco de Coppola — bem como as reações preocupadas dos executivos de Hollywood sobre os resultados finais — já são conhecidas.
O elenco inclui Aubrey Plaza, Shia LaBeouf e Dustin Hoffman, mas o filme está em produção há tanto tempo que alguns atores que testaram para papéis já morreram há muito tempo, incluindo Paul Newman e James Gandolfini.
— Eu queria fazer um filme sobre uma expressão humana do que realmente é o paraíso na Terra — disse Coppola no Festival Lumiere, em Lyon em 2019. — Eu diria que é o filme mais ambicioso (em que trabalhei), mais do que "Apocalipse Now"."
Embora Coppola tenha lançado vários insucessos desde seu apogeu na década de 1970, muitos ainda acreditam em sua genialidade.
— Cannes é importante para ele e ele é importante para Cannes. Ele vem como artista — disse o diretor do festival, Thierry Fremaux.
Na disputa pela Palma
"Megalopolis" é um dos 22 filmes que concorrem à Palma de Ouro, enfrentando um júri liderado pela diretora de "Barbie", Greta Gerwig, que anunciará o veredito em 25 de maio. Outras obras incluem uma cinebiografia de Donald Trump, "O aprendiz", e novos filmes dos favoritos da arte David Cronenberg ("The shrouds"), do italiano Paolo Sorrentino ("Parthenope"), bem como "Emilia Perez", um musical de som improvável sobre um chefe do cartel mexicano mudando de sexo com Jacques Audiard. O Brasil está na disputa com "Motel Destino", de Karim Aïnouz.