"Maior catástrofe que o Brasil presenciou", diz coordenador do Samu-Recife que atuou no RS
Leonardo Gomes viajou até o Sul do país como coordenador-geral do Aeromédico da Força Nacional do SUS, vinculado ao Ministério da Saúde
A tragédia no Rio Grande do Sul, causada pelas enchentes que se alastraram por todo o estado, resultou numa mobilização nacional de profissionais que foram para a linha de frente atuar nos resgates. Um desses voluntários foi Leonardo Gomes, que nasceu na Bahia e mora em Pernambuco há 20 anos, e atualmente é coordenador-geral do Samu Metropolitano do Recife. Com experiência em situações desse porte, o médico considerou essa a “maior catástrofe que o Brasil já presenciou”.
Leonardo chegou ao Rio Grande do Sul no dia 5 de maio para atuar como coordenador-geral do Aeromédico da Força Nacional do SUS, vinculado ao Ministério da Saúde. Seu período na missão especial terminou nesta quinta-feira (16), quando teve início seu retorno para casa. Em entrevista à reportagem da Folha de Pernambuco, ele contou sua vivência nesses 13 dias.
"Eu sou um dos fundadores da Força Nacional do SUS. Participamos de grandes eventos, desde a tragédia em 2010 das chuvas na Mata Sul de Pernambuco. Em 2011, fui para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Ao longo desses anos, tivemos diversas participações em tragédias em Pernambuco e outros estados do Brasil”, relatou o médico.
Apesar dessa experiência, Leonardo não hesitou em dimensionar a situação vivida pelo Rio Grande do Sul como a mais trágica da história brasileira.
“A visão da maior catástrofe que o Brasil já presenciou. A dificuldade é o próprio acontecimento, que é um evento muito dinâmico. Ele atingiu diversas cidades ao mesmo tempo, algumas que foram completamente destruídas, e pessoas totalmente desassistidas. É algo difícil de lidar mesmo para quem tem experiência”.
O médico liderou uma equipe com 38 profissionais - entre eles, três enfermeiros e um médico do Samu-Recife -, que se estabeleceram na base aérea militar de Canoas, município localizado a 14 km da capital, Porto Alegre. Desse local, saíram as operações aéreas tanto de helicópteros quanto de avião.
Os pedidos por resgates aconteciam de diversas formas: por ligações no 190, 192, 193, ou chamadas de Whatsapp e vídeos que chegavam para as equipes da base aérea, além de buscas que eram feitas com aeronaves à procura de pessoas.
“Foi uma atividade que a gente chama de multimissão. Fizemos tudo que era transporte de pacientes. Atendimento primário, acidentes, ocorrência com pessoas ilhadas, pessoas que não tiveram acesso à comida ou água potável. Transportar pessoas de locais que as unidades de saúde estavam desassistidas para locais que tinham assistência médica”, resumiu Leonardo.
O retorno de Leonardo ao Recife não significa que a situação se normalizou no Rio Grande do Sul. O cenário no estado do Sul do país ainda é complicado e outras pessoas vão seguir no trabalho de atendimento aos gaúchos.
“Tudo foi complicado, mas conseguimos conduzir não só os colegas, mas também os resgates que pude participar. Tudo terminou bem, mas tem muito trabalho ainda. Essa equipe está sendo trocada agora e novas pessoas virão para dar sequência. A chuva deu uma aliviada. É um alento, mas ainda tem muita gente desabrigada”, reforçou o coordenador-geral do Samu Metropolitano do Recife.
Caso seja necessário, a Força Nacional do SUS ainda pode solicitar o retorno de Leonardo e outros membros da equipe. O recomendado é que os voluntários tenham quinze dias de descanso após esse período intenso de atuação.
Números da tragédia
De acordo com últimos dados divulgados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira (16), são 151 mortes confirmadas, 104 desaparecidos e 806 feridos. São 617 mil pessoas fora de casa, sendo que 540,1 mil estão desalojados (em casas de amigos ou parentes) e 77,2 mil foram acolhidos em abrigos.