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Efeito colateral, impaciência: por que 58% das pessoas param o tratamento com Wegovy antes do tempo

O relatório foi conduzido pela operadora de planos de saúde americana Blue Cross Blue Shield e mostrou a tendência de abandono prematuro da utilização do fármaco

Wegovy, remédio para perda de peso - Divulgação/Novo Nordisk

Enquanto as buscas pelas canetas injetáveis com semaglutida, como o Wegovy e similares, não para de crescer, cerca de 58% das pessoas não completam o período recomendado de 12 semanas utilizando medicamentos para perda de peso, de acordo com um novo relatório feito pela operadora de planos de saúde americana Blue Cross Blue Shield.

O período foi definido a partir de uma diretriz publicada em conjunto pelas associações American College of Cardiology e American Heart Association, para sistematizar o tratamento de indivíduos com obesidade.

"Os doentes que tomam medicamentos GLP-1 devem completar pelo menos 12 semanas de tratamento contínuo para poderem atingir uma perda de peso clinicamente significativa que terá um impacto positivo na sua saúde", escreveram os autores.
 

As canetas injetáveis podem ser utilizadas em diferentes doses, desta forma, gradualmente elas são aumentadas. De acordo com os achados, 30% das pessoas desistiam das canetas injetáveis após as primeiras quatro semanas, antes mesmo de atingir uma mudança de dose.

Para o relatório, a Blue Cross Blue Shield utilizou dados de 169.250 pessoas com planos de saúde sob a sua cobertura que utilizaram fármacos destinados à perda de peso no período de 2014 e 2023.

O que afeta a continuidade do tratamento?
A análise encontrou alguns fatores que podem determinar a continuidade da utilização do medicamento para a obesidade. São eles: acompanhamento por profissionais, problemas de saúde preexistentes, idade, valor de coparticipação e forma de consulta (modalidade presencial ou telessaúde).

Obtiveram um maior índice de participação as idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos tinham maior probabilidade de abandonar o tratamento mais cedo. Assim como aqueles que eram acompanhados por endocrinologistas e especialistas em medicina da obesidade.

Os indivíduos com problemas de saúde coexistentes, como a doença vascular periférica e diabetes, e particularmente aqueles com três ou mais dessas comorbidades, eram mais propensos a manter uso contínuo. A aderência também era maior por aqueles com consultas online ou por telefone, nomeadas telessaúde.

Além disso, o valor cobrado pelas canetas injetáveis pode ser uma forte influência na decisão de abandonar o tratamento a longo prazo, contudo, neste caso, os pacientes não estavam tirando de seus próprios bolsos por estarem utilizando a cobertura de seus planos. Outro ponto são os efeitos colaterais, incluindo distúrbios gastrointestinais, como náuseas, diarreia e vômitos, que causou a desistência de 17% dos participantes do ensaio clínico mais longo do Wegovy.

No Brasil, Wegovy é aprovado pela Anvisa
O medicamento, administrado em forma de caneta injetável, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2023 para o tratamento da obesidade e sobrepeso com comorbidade relacionada ao peso. O Wegovy é o nome comercial da semaglutida, mesmo princípio ativo do Ozempic, só que destinada à perda de peso. Já o Ozempic, embora seja usado off-label com essa finalidade, é destinado ao tratamento da diabetes tipo 2.

Por ser destinado à perda de peso, o Wegovy tem uma dose maior que o Ozempic - a dose máxima do Wegovy é de 2,4 mg, contra 1mg do Ozempic. É ela que demonstrou a alta eficácia para o emagrecimento, que chegou a uma redução de 17% do peso corporal em adultos após 68 semanas num estudo publicado na revista científica The Lancet.