INTERNACIONAL

Israel critica reconhecimento da Palestina como Estado por Espanha, Irlanda e Noruega

Reconhecimento acontecerá no dia 28 de maio; segundo o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, negociação com capitais europeis durou meses

Israel - Jalaa Marey / AFP

Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram, nesta quarta-feira (22), que irão reconhecer a Palestina como Estado, um passo que Israel, em plena ofensiva contra o Hamas em Gaza, qualificou de "recompensa ao terrorismo".

"Chegou a hora de passar das palavras à ação", disse ao Parlamento o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmando que seu contraparte israelense, Benjamin Netanyahu, está promovendo uma política de "dor e muita destruição" que "põe em risco" a solução de dois Estados.

Sánchez, que por meses negociou com outras capitais europeias para dar esse passo, anunciou que a Espanha reconhecerá o Estado palestino em 28 de maio, assim como Irlanda e Noruega - este último país não é membro da UE.

Netanyahu chamou essas iniciativas de "uma recompensa ao terrorismo", que "não trará paz".

Um Estado palestino será "um Estado terrorista [que] tentará repetidamente cometer o massacre de 7 de outubro, e não permitiremos isso", acrescentou, referindo-se à incursão mortal de milicianos do movimento islamista Hamas no sul de Israel que desencadeou a guerra em 7 de outubro de 2023.

Israel convocou seus embaixadores em Madri, Dublin e Oslo para consultas e indicou que convocaria os embaixadores dos três países em Israel.

O Hamas, no poder em Gaza, por outro lado, considerou o reconhecimento da Palestina como Estado um "passo importante"; e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), considerada internacionalmente como a única representante legítima do povo palestino, chamou-o de "histórico".

Divisão internacional 
Os 27 países-membros da UE pediram um cessar-fogo em Gaza e reiteraram seu apoio a uma solução de dois Estados, mas "precisamos ser honestos e reconhecer que isso não é suficiente", disse o socialista Pedro Sánchez.

A solução de dois Estados é o "único caminho confiável para a paz e a segurança de Israel, da Palestina e de seus povos", disse o primeiro-ministro irlandês de centro-direita, Simon Harris, em Dublin.

No ataque de 7 de outubro, os comandos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, de acordo com um relatório da AFP baseado em fontes oficiais israelenses.

Os combatentes islamistas também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 124 pessoas permanecem em Gaza, das quais 37 teriam sido mortas.

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva contra Gaza que até agora deixou 35.709 mortos, a maioria civis, de acordo com o ministério da saúde do governo do Hamas.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, prometeu trabalhar "incansavelmente com todos os Estados-membros para promover uma posição comum da UE baseada em uma solução de dois Estados".

Mas a questão do Estado palestino, reconhecido por 142 dos 193 Estados-membros da ONU, de acordo com a Autoridade Palestina (que administra parcialmente a Cisjordânia), divide a UE.

Mas a questão do Estado Palestino, reconhecido por 142 dos 193 Estados-membros da ONU, segundo a Autoridade Palestina, divide a UE.

O chefe da diplomacia francesa, Stéphane Séjourné, disse à AFP que o reconhecimento da Palestina "não é um tabu para a França", mas que este não é um bom momento para isso.

A Alemanha considera que o reconhecimento da Palestina deve ser o resultado de negociações diretas entre as partes envolvidas no conflito.

O presidente dos EUA, Joe Biden, também acredita que "um Estado palestino deve ser alcançado por meio de negociações diretas entre as partes e não por meio de reconhecimento unilateral", disse a porta-voz do Conselho de Segurança, Adrienne Watson.

A Arábia Saudita, por outro lado, disse que o reconhecimento da Palestina pelos três países europeus foi uma "decisão positiva".

Uma decisão simbólica 
Ismail Hasuna, um palestino de 46 anos residente em Rafah, no extremo sul de Gaza, vê a decisão do trio europeu como uma medida que "restaurará a esperança" e deverá contribuir para "pôr fim aos crimes hediondos de Israel".

A analista política Ines Abdul Razek, que dirige o Instituto Palestino para a Democracia Pública, descreveu o anúncio como meramente "simbólico".

"O que precisamos é de medidas reais, incluindo sanções e embargos de armas, que possam impedir o genocídio, a eliminação de nosso povo e a colonização de nossa terra, que Israel realiza impunemente", afirmou.

Uma equipe da AFP relatou combates e ataques aéreos e de artilharia no início desta quarta-feira em Rafah, de onde mais de 800.000 pessoas fugiram este mês, de acordo com a ONU.

As operações iniciadas este mês nessa cidade na fronteira de Gaza com o Egito, que Israel considera o último bastião do Hamas, agravaram a situação humanitária no território de 2,4 milhões de pessoas.

Combates intensos também abalaram o norte e o centro do território palestino, onde as forças do movimento islamista se reagruparam, e novos bombardeios atingiram a Cidade de Gaza, Jabaliya e Zeitun.

Dez pessoas foram mortas na cidade central de Al Zawaida durante a noite, de acordo com o Hospital dos Mártires de Al Aqsa.

A Defesa Civil de Gaza afirmou ter recuperado seis corpos dos escombros de uma casa de família em Jabaliya.

Mais tarde, o Exército israelense afirmou que seus soldados realizaram ataques direcionados a dezenas de complexos militares do Hamas em Jabaliya.