Mais de 750 mil mortes por bactérias poderiam ser evitadas com medidas simples, diz estudo na Lancet
Revista científica lançou uma série sobre o tema da resistência antimicrobiana, fenômeno que causa 4,95 milhões de óbitos por ano
A resistência antimicrobiana (RAM) – quando microrganismos deixam de ser suscetíveis aos medicamentos – é uma das 10 principais ameaças de saúde pública ao redor do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O alerta ao redor do fenômeno não é à toa: estima-se que 7,7 milhões de vidas sejam perdidas todos os anos por infecções bacterianas, e 4,95 milhões delas pelas chamadas superbactérias, as resistentes aos antibióticos.
Por isso, nesta semana, a revista The Lancet, uma das mais importantes publicações científicas, lançou uma série de quatro novos estudos dedicados ao tema. Um deles apontou que 750 mil desses óbitos poderiam ser evitados em países de média e baixa renda com o aprimoramento e a expansão de métodos simples e já existentes de prevenção a infecções.
São elas:
Higiene das mãos;
Limpeza e a esterilização regulares de equipamentos em instalações de assistência médica;
Disponibilidade de água potável;
Saneamento eficaz e
Expansão de vacinas pediátricas.
De acordo com o coautor do estudo e professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, Joseph Lewnard, essas medidas deveriam ser o principal objetivo no momento.
“O foco em intervenções com eficácia comprovada na prevenção de infecções deve estar no centro da ação global para combater a RAM. A prevenção de infecções reduz o uso de antibióticos e diminui a pressão de seleção para a RAM, de modo que os medicamentos funcionem quando forem mais necessários”, disse em comunicado.
De forma mais específica, o trabalho estimou que a melhora da prevenção e do controle de infecções nos estabelecimentos de saúde poderia salvar até 337 mil vidas por ano. Já o acesso universal à água potável e ao saneamento eficaz em ambientes comunitários poderia prevenir outras 247,8 mil mortes.
Além disso, a expansão da implementação de algumas vacinas pediátricas, como as vacinas pneumocócicas, que protegem contra pneumonia e meningite, e a introdução de novas vacinas, como as doses contra o VSR, principal causa de bronquiolite infantil, para gestantes, poderiam salvar 181,5 mil vidas por ano.
“Nossas descobertas destacam como as ações de saúde pública para prevenir infecções em primeiro lugar devem ser priorizadas como uma estratégia para combater a RAM, pois esses métodos têm o potencial de reduzir drasticamente o número de mortes por infecções associadas à RAM. Se pudermos nos concentrar na melhoria dos métodos de controle de infecções, água e saneamento e vacinação em países de baixa e média renda, será possível reduzir em 10% o número de mortes relacionadas à RAM até 2030”, continuou Yewande Alimi, também autora do estudo e membro do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da África.