POLÍTICA

"Ministro sem ministério", Edinho Silva gera apoio e crítica por proximidade com Lula

Apontado como favorito de Lula para assumir o comando do PT em 2025, Edinho Silva também é visto como o principal nome para chefiar a Secom

Edinho Silva recepcionou Lula e comitiva de ministros, como Nísia Trindade (D), sexta, em Araraquara - Ricardo Stuckert/PR

Prefeito de Araraquara, no interior paulista, o petista Edinho Silva conseguiu no início do mês um disputado lugar no voo de autoridades para acompanhar a força-tarefa do governo federal ao Rio Grande do Sul.

Após oferecer a entrega de purificadores, foi convidado pela primeira-dama, Janja da Silva, de quem é próximo, para fazer uma dobradinha e comunicar as ações do Planalto. Com trânsito privilegiado, Edinho vem despachando regularmente no gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva e cultiva amizade com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Com tamanha desenvoltura e influência, aliados do presidente já o chamam jocosamente de “ministro sem ministério”, o que revela a disputa nada sutil pela proximidade do poder e um incômodo de uma ala do partido e do governo.

Apontado como favorito de Lula para assumir o comando do PT em 2025, Edinho Silva também é visto como o principal nome para chefiar a Secretaria de Comunicação Social (Secom) na hipótese de Paulo Pimenta não retornar ao posto. No momento, Pimenta assumiu a missão de ser o ministro extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, mas enfrenta desgastes junto a governistas, que criticam internamente a comunicação da gestão de Lula. O hoje prefeito de Araraquara, por sua vez, já ocupou o mesmo posto no governo Dilma Rousseff.

Edinho é considerado um político com bom nível de diálogo para fora dos muros do PT, com empresários e com habilidade para costurar as alianças nas próximas eleições. No cálculo feito por quem defende seu nome para suceder Gleisi Hoffmann, Edinho não teria concorrência à altura. Ele conta com apoio de Haddad e do ex-ministro José Dirceu, que vem retomando espaço de influência sobre o governo e o dia a dia da sigla.

Por outro lado, há um entendimento de que ele terá que superar alguns obstáculos para o cargo. Aliados do prefeito reconhecem que ele é uma figura ainda restrita ao estado de São Paulo, e que precisará se apresentar ao PT em todos os estados para se credenciar. Neste sentido, “o ministro sem ministério” só conseguirá chegar ao topo da estrutura do PT se abdicar de qualquer movimentação para ocupar a Secom.

"Edinho Silva tem uma reconhecida sensibilidade política e capacidade construir unidade politica", afirma o deputado estadual de São Paulo Emidio Souza, petista próximo a Lula.

Procurado, Edinho não quis se manifestar sobre a presença constante em Brasília. Ao jornal O Globo no mês passado, porém, ele disse que a responsabilidade pela condução do processo de sucessão de Gleisi é da própria presidente do PT. Já sobre ocupar uma pasta, afirma que nunca ter conversado sobre o assunto.

"Minha relação com o presidente é a melhor possível. O presidente nunca conversou comigo sobre ministério. Ele sabe da importância de eu terminar o meu mandato em Araraquara", disse.

‘Falta de musculatura'
Na última sexta-feira, Lula esteve em Araraquara para assinar o início das obras em áreas afetadas por enchentes. O presidente fez um gesto de deferência ao pupilo, mesmo em um momento em que todas as atenções estão voltadas à tragédia do Rio Grande do Sul.

Enquanto o prestígio de Edinho aumenta, alas do PT contrárias à indicação ao comando do partido apontam que o prefeito não é uma figura nacional, citam “falta de musculatura” e “critério” para a escolha. Os descontentes também argumentam que Lula ainda não sinalizou apoio claro a ele e que Silva “milita” na relação pessoal com o presidente e Janja para acumular capital político.

Nos últimos meses, Edinho fez visitas quase semanais ao presidente. Pessoas próximas lembram que, por não ter relação de subordinação e cargo no governo, o prefeito tem um nível de liberdade maior que outros auxiliares para analisar cenários junto ao mandatário.

No governo, o desconforto da sua proximidade com Lula é apontado por auxiliares que citam Edinho como principal expoente de um grupo de prefeitos que comandam cidades médias importantes para o PT, entre elas Araraquara, Mauá e Diadema. Eles costumam levar suas demandas locais diretamente ao presidente, muitas vezes citando descontentamentos com áreas e ministérios. O presidente, por sua vez, costuma fazer pedidos próprios para essas cidades e tem preferência por agendas nesses municípios.

Outro incômodo, principalmente em São Paulo, é o cálculo de que a ida do prefeito para o comando do PT possa catapultar sua candidatura como deputado federal por São Paulo, o que poderia custar uma das nove vagas da bancada petista do estado, colocando em risco a renovação de mandatos dos atuais. A interlocutores, Edinho repete que não deixará o mandato de Araraquara e que sua prioridade é eleger sua sucessora, Eliana Honain.