Quem é o ex-PM e atirador Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco e Anderson Gomes
Preso em penitenciária federal de segurança máxima fora do Rio, e à espera do julgamento pelas mortes, ele fechou um acordo de delação premiada
A delação premiada de Ronnie Lessa, apontado pela PF como o matador de Marielle Franco e de Anderson Gomes, voltou a repercutir após trechos do vídeo do depoimento serem divulgados, na noite de domingo, pelo Fantástico, da Rede Globo. Neles, o suspeito afirma que lucraria R$ 100 milhões com a morte da vereadora, e que usaria o dinheiro para "criar uma milícia nova" no Rio de Janeiro. Exímio atirador e ex-PM, Lessa revelou à Polícia Federal, na delação, que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão são os mandantes dos assassinatos. Os três estão presos em presídios federais.
Quem é Ronnie Lessa?
Até ser preso, em 12 de março de 2019, Lessa tinha a ficha limpa. Egresso do Exército, ele foi incorporado à Polícia Militar em 1992. Depois, virou adido da Polícia Civil — a prática de cessão de PMs para a corporação começou no início dos anos 2000. Trabalhou na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae), na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
Foi a partir dessa experiência como adido que Lessa impulsionou sua carreira de mercenário. Como muitos agentes na mesma situação, conhecia mais as ruas que os policiais civis. Destacou-se pela agilidade e a coragem na resolução dos casos. Nos bastidores da polícia, o comentário é que essa fama chamou a atenção do contraventor Rogério Andrade, que travava uma disputa com o também contraventor Fernando Iggnácio de Miranda.
Lessa não demorou para crescer na quadrilha de Andrade e logo virou homem de confiança do contraventor. Em abril de 2010, porém, essa situação mudaria: a explosão de uma bomba no carro do bicheiro matou seu filho, Diego Andrade, de 17 anos. O atentado acabou com a credibilidade do guarda-costas junto a Rogério Andrade: ele havia falhado em proteger o chefe e seu herdeiro.
Um fato chamou a atenção no atentado que matou o filho do bicheiro: o método de detonação da bomba, segundo peritos constataram, foi o mesmo usado em ataque feito contra Lessa, em 2009. Na ocasião, o então sargento da PM perdeu uma perna. De acordo com o laudo do Esquadrão Antibombas, para explodir o Toyota Corolla blindado de Andrade foi usado um dispositivo acionado à distância por meio de celular.
Com a reforma por invalidez, Lessa deixou de ser adido, mas ainda circulava pelas delegacias da Polícia Civil, principalmente a DRAE. Até que, em 2011, sabendo da migração de adidos para o mundo do crime, a Secretaria estadual de Segurança proibiu a cessão de PMs e acabou com a Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos.
Com as portas fechadas na polícia e a experiência de ter feito parte da quadrilha de Rogério Andrade, o ex-sargento se juntou a uma organização criminosa formada por matadores de aluguel, considerada a mais temida e eficiente do Rio. Lessa batia ponto no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
Segundo relatos de quem conhece o ex-PM pessoalmente, ele não media consequências na prática dos crimes. Habilidoso no manejo de armas, principalmente fuzis, é conhecido por gostar de atirar sentado e jamis retornar para sua base sem ter cumprido o que havia sido acertado com seu contratante.