Indignação mundial por bombardeio israelense contra campo de deslocados de Rafah
Os militares israelenses disseram que seus aviões atingiram "uma instalação do Hamas em Rafah"
Israel foi alvo de uma onda de condenações internacionais nesta segunda-feira (27) por um bombardeio que, segundo autoridades de Gaza, matou 45 pessoas em um campo de deslocados em Rafah, no sul do enclave palestino, governado pelo movimento islamista Hamas.
O bombardeio se deu no âmbito da ofensiva lançada por Israel contra o Hamas há mais de sete meses, na sequência do ataque mortal que milicianos do grupo realizaram em solo israelense em 7 de outubro.
Israel declarou que está investigando o "grave" bombardeio em Gaza na noite de domingo, que deixou várias vítimas civis e que, segundo o Exército, teve como alvo milicianos do Hamas.
Os militares israelenses disseram que seus aviões atingiram “uma instalação do Hamas em Rafah”, em um ataque que matou dois altos funcionários do grupo islamista.
A ONU apelou a Israel para realizar uma investigação “completa e transparente” sobre o atentado. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “estas operações devem parar”.
“Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinos. Apelo ao pleno respeito pelo direito internacional e a um cessar-fogo imediato”, escreveu ele na rede social X.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse estar “horrorizado com as notícias vindas de Rafah sobre os ataques israelenses que mataram dezenas de pessoas deslocadas, incluindo crianças”.
"Estamos investigando. Qualquer perda de vidas civis é grave e terrível", disse o porta-voz do governo israelense, Avi Hyman, em entrevista coletiva, garantindo que Israel "tenta limitar as vítimas civis".
"Corpos carbonizados"
O bombardeio ocorreu horas depois que o Hamas disparou foguetes contra a cidade israelense de Tel Aviv e outras áreas do centro de Israel.
As defesas aéreas israelenses derrubaram a maioria dos projéteis e nenhuma vítima foi relatada.
A agência de defesa civil de Gaza disse que o bombardeio causou um incêndio que devastou um campo de deslocados a noroeste de Rafah.
“Vimos corpos carbonizados (…) Também vimos amputações, crianças feridas, mulheres e idosos”, disse Mohamed al Mughayyir, funcionário da agência.
“Tínhamos acabado de terminar a oração noturna (...) nossos filhos estavam dormindo, de repente ouvimos um barulho alto e vimos fogo por toda parte. As crianças gritavam, o barulho era assustador", disse um sobrevivente que não quis ser identificado .
Imagens divulgadas pelo Crescente Vermelho palestino mostram cenas caóticas de equipes médicas evacuando pessoas feridas, incluindo crianças.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que um dos seus hospitais de campanha estava recebendo um "fluxo de feridos em busca de cuidados para ferimentos e queimaduras" e que as suas equipes estavam "fazendo todo o possível para salvar vidas".
Imagens registradas por equipes da AFP na manhã desta segunda-feira mostram restos de tendas carbonizados e famílias palestinas contemplando a destruição.
Após o bombardeio, o Hamas apelou aos palestinos para “se levantarem e marcharem” contra o “massacre” do Exército israelense.
"Crimes de guerra"
O ataque israelense provocou a condenação de vários países da região.
O Egito denunciou um “ataque a civis indefesos”, a Jordânia acusou Israel de cometer “crimes de guerra” e a Arábia Saudita condenou “os contínuos massacres cometidos pelas forças de ocupação israelenses”.
Já a Turquia prometeu fazer "todo o possível para responsabilizar os bárbaros e assassinos".
O Catar, que atua como mediador com os Estados Unidos e o Egito para conseguir uma trégua no conflito e a libertação dos reféns detidos pelo Hamas em Gaza, alertou que o bombardeio poderia “dificultar” as negociações.
O presidente da União Africana, Mousa Faki Mahamat, estimou que “Israel continua violando o direito internacional impunemente e desconsidera uma decisão da CIJ há dois dias que ordenou o fim da sua ação militar em Rafah”.
Por outro lado, o Exército israelense informou que está investigando um ataque a tiros ocorrido nesta segunda-feira na fronteira entre Gaza e Egito, enquanto o Exército egípcio confirmou a morte de um agente de fronteira.
A guerra na Faixa de Gaza eclodiu em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os combatentes também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 continuam sequestradas em Gaza, das quais 37 teriam morrido no cativeiro.
Em resposta, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva contra Gaza que deixou 36.050 mortos até o momento, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, ameaçado pela fome iminente.
Espanha, Irlanda e Noruega planejam reconhecer formalmente a Palestina como um Estado nesta terça-feira (28), um passo que até agora foi dado por mais de 140 membros da ONU, mas por poucas potências ocidentais.