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Hospitais de Gaza são forçados a praticar "medicina medieval"

"Há instrumentos descartáveis que eu uso no Reino Unido, mas que [os médicos em Gaza] usam 10 ou 20 vezes", disse médico britânico

Um manifestante segura uma bandeira palestina durante uma manifestação convocada pela organização francesa - Geoffroy Van Der Hasselt/AFP

Os hospitais de Gaza ficaram submetidos a uma situação "insuportável" pela guerra entre Israel e o grupo islamista Hamas, e foram forçados a praticar uma "medicina medieval", denunciou um médico britânico à AFP.

O gastroenterologista britânico Jaled Dawas, de pais palestinos, que passou recentemente duas semanas como voluntário em hospitais de Gaza, disse que é "absolutamente correto" descrever o que se pratica nesses centros médicos como "uma medicina medieval".

Dawas foi convidado a acompanhar em Bruxelas uma reunião de ministros de Relações Exteriores da UE, de quem disse esperar "uma liderança decisiva para pôr ponto final ao sofrimento e à destruição".
 

O especialista passou duas semanas em janeiro e outras duas semanas em abril em hospitais na Faixa de Gaza como parte de um equipe enviada por duas ONGs humanitárias.

Em Gaza, a equipe do hospital vê um “volume constante de corpos moribundos e mortos chegando todos os dias. Nenhum ser humano é capaz de tolerar isso", disse o médico de 54 anos.

Os médicos e enfermeiros “ainda estão trabalhando, mas é possível ver o efeito de tudo isso. Todos estão extremamente sobrecarregados com o que estão fazendo", acrescentou.

Dawas descreveu um cenário generalizado de infecções pós-operatórias que levam ao risco de amputações, falta de antibióticos e de equipamentos de esterilização.

“Há instrumentos descartáveis que eu uso no Reino Unido, mas que [os médicos em Gaza] usam 10 ou 20 vezes”, disse ele.

Entre os feridos, segundo ele, há “uma grande população de mulheres e crianças, mas também homens jovens, com idades entre 16 e 24 anos, que aparentemente se tornaram alvos legítimos”.

O médico britânico disse que espera retornar a Gaza em breve. “Sinto-me culpado por ter podido sair. Meus colegas que trabalham lá não podem sair, eles não têm escolha", disse ele.

“Espero que, quando eu voltar, haja um cessar-fogo, porque testemunhar tudo isso é insuportável”, disse ele.