Aí vem uma típica cerveja universitária
A Catharina Sour é um estilo de cerveja obtida pela fermentação do trigo, com acidez lática e acréscimo de frutas. É leve, de teor alcoólico mediano, produzida por cervejarias artesanais, tendo sido concebida em Santa Catarina, (daí o Catharina) e contém um grau de amargor (daí o Sour).
É a primeira cerveja estilo tipicamente brasileiro. O estilo foi reconhecido internacionalmente pelo Beer Judge Certification Program, (www.bjcp.org/) tido como a principal organização do gênero no mundo, com cerca de 7.000 juízes especializados, espalhados por 40 países.
Foi o estilo Catharina Sour que serviu de inspiração para pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e do Instituto de Química (IQ) da Universidade de Brasília. A tecnologia foi repassada para uma empresa privada (Bracitorium), localizada no Distrito Federal, que já fabrica diversas cervejas artesanais, incluindo uma cerveja flavorizada com baunilha. A empresa vai produzir a nova cerveja sob o nome Turma da Colina. Mas o que essa cerveja tem de especial?
Tudo começou em 2022, com uma ideia inovadora de um estudante de Química, Igor Carvalho, que desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso estudando novos microrganismos para produzir cervejas no estilo Catharina Sour. Para obter mais informações sobre o estudo, busque em https://bit.ly/4aCtsDY. O artigo é assinado também por mais três autores, um deles o gaúcho, prof. Paulo Suarez, com quem tive o prazer de trabalhar no desenvolvimento de um protótipo de produção de biodiesel pela via pirolítica. Nada a ver com cerveja, claro!
A bem da verdade, segundo Igor, a ideia inicial era produzir hidromel, uma bebida alcoólica fermentada, cujo principal componente é o mel de abelhas. No decurso do estudo, ele verificou a presença de lactobacilos, que estão associados com a produção da cerveja estilo Catharina Sour.
Com a constatação, a pesquisa tomou outro rumo, e se direcionou para o desenvolvimento de um novo tipo de cerveja, utilizando o pólen produzido por uma abelha sem ferrão, típica do cerrado brasileira, que é a marmelada (Frieseomellita varia). Para produzir o pólen na forma como foi utilizado pelos pesquisadores, a abelha o coleta das flores, mistura com o mel e a própria saliva, criando um substrato que, após fermentado, é utilizado como alimento. Foi onde os pesquisadores encontraram os microrganismos que utilizaram para fermentação que resultou na nova cerveja.
E por que a denominação Turma da Colina? Há uma ponta de nostalgia na sua origem, como explica o prof. Suarez. A região onde ficam os prédios residenciais da UnB é conhecida como Colina. Por lá, na década de 70, a Turma se reunia para ouvir bandas de rock. E tomar cerveja. Ficou fácil: Turma da Colina.
Salute!
*Pesquisador da Embrapa, membro do Conselho Científico da ABELHA, do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica