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Governo avalia que mudança de embaixador envia recado de insatisfação com conduta de Israel

Medida era estudada desde reunião de Frederico Meyer, ex-embaixador, no Museu do Holocausto

O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer - Geraldo Magela/Agência Senado

O gesto de retirar embaixador do Brasil de Israel, Frederico Duque Estrada Meyer, e colocar em seu lugar o encarregado de negócios, Fábio Farias, é um recado de insatisfação do governo brasileiro, afirmam integrantes do Executivo. A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciada nesta quarta-feira.

Meyer foi nomeado como Representante Especial do Brasil na Conferência Especial do Desarmamento, órgão da ONU sediado em Genebra. A mudança vinha sendo estudada desde a reunião a pedido do ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, no memorial do Holocausto para repreendê-lo pela declaração de Lula comparando os ataques israelenses na Faixa de Gaza com o Holocausto.
 

O episódio foi classificado por interlocutores do governo brasileiro como "humilhante" e um "circo". Lula chegou a ser classificado como "persona non grata" no país e decidiu chamar de volta para o Brasil o embaixador Meyer.

O contexto tornou a permanência de Meyer à frente da embaixada insustentável, cenário agravado pela escalada da guerra na Faixa de Gaza. Antes da decisão final, o governo esperou uma melhora do cenário, o que não ocorreu, na visão do Planácio do Planalto.

Na linguagem diplomática, nomear um encarregado de negócios por tempo indeterminado é considerado um recado de insatisfação. A avaliação é que o diálogo de alto nível ainda demorará um tempo para ser retomado.

Para efeito de comparação, o mesmo gesto foi feito pela Espanha recentemente, que anunciou a retirada definitva de sua embaixadora na Argentina após o presidente do país, Javier Milei, ter se recusado a pedir desculpas por sua fala contra a esposa do primeiro-ministro Pedro Sánchez, Begoña Gómez, na qual a chamou de “corrupta”.

Fábio Farias, que agora assume a embaixada de Israel, atuava como ministro conselheiro de Meyer. Braço direito do embaixador, Farias tem bom conhecimento sobre os assuntos da embaixada e atuava como encarregado de negócios desde a convocação de Frederico Meyer ao Brasil por Lula.

Diplomata de carreira, Farias já chefe do setor de Congresso na Embaixada de Brasil nos EUA (2020-2022), chefe do setor político na Embaixada de Brasil no Paraguai (2013-2015) e delegado na Missão do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York (2009-2012).

No Brasil, já passou por inúmeros cargos no governo federal, como chefe de Gabinete e secretário executivo adjunto da Secretaria-Geral da Presidência da República (2017) e coordenador da Assessoria de Relações Federativas e com o Congresso Nacional (2015).

O encarregado de negócios é mestre em história pela Universidade Federal de Brasília (UNB) e em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, com atuação nas áreas de diplomacia, política internacional, economia, administração pública e relações institucionais.