RIO DE JANEIRO

Caso Marielle: Ronnie Lessa disse que conheceu irmãos Brazão no haras deles em Jacarepaguá

Endereço na Zona Oeste do Rio fica próximo a casa de um amigo em comum, disse o ex-policial militar

O ex-policial militar Ronnie Lessa, durante depoimento prestado em delação premiada - Reprodução

O ex-policial militar Ronnie Lessa deu detalhes, em sua delação à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República (PGR), de como conheceu os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, em 1999. Lessa conta que os primeiros encontros aconteceram numa casa em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, ao lado onde os irmãos têm um haras. Entre os assuntos em comum nas conversas estavam os hobbies: a criação de passarinhos e de cavalos.

"Eu acredito que no ano de 1999, se não me engano, foi quando eu os conheci. Eu fui construindo um criadouro de passarinhos, que era uma reprodução de curiós e bicudos na área ali próximo onde seriam os condomínios, na área da Chacrinha", contou Lessa na delação ao contar sobre a relação com os Brazão.

O ex-PM disse que a casa de um amigo, identificado como Santiago Gordo, fica a 50 metros do haras dos Brazão. O endereço do amigo passou a ser um ponto de encontro, onde bebiam cerveja, jogavam sinuca e conversavam sobre os criadouros.

"Então a casa era casa do Santiago, o apelido do Santiago era Gordo, casado com a dona Rose, que na época estava estudando Direito, até se formou. A casa foi criada, eles moravam, tinha um criadouro e, assim, com menos de 50 metros dessa casa, é o haras dos Brazão. É o haras deles. Eles têm um haras. Eles são proprietários de um haras em Jacarepaguá. Da obra do Santiago, você via o haras", disse Lessa.

"Então, quer dizer, aquele ambiente ali de passarinho, cavalo, mata, por que é um lugar... Se não tivesse favelizado era uma fazenda. Aquele ambiente ali é uma coisa bacana até pra respirar. Virou uma frequência", destacou.

 

Outro personagem que aparece na trama do assassinato da vereadora Marielle Franco também é citado por Ronnie Lessa. O ex-policial militar Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, morto a tiros em novembro de 2021, é lembrado também pela criação de pássaros. Segundo Lessa, foi Macalé quem o entregou, em mãos, o arma e o carro, usados no crime, e o endereço da residência da parlamentar, em 2017.

"O Macalé, passarinheiro nato, eu me aventurava com um passarinho ou outro, mas meu negócio era mais beber cerveja e jogar sinuca, porque lá tinha uma sinuca e tinha cerveja, no Santiago. Então, nesse ambiente eu conheci os Brazão, os irmãos. Lá fui apresentado por Santiago, nesse ambiente aí", contou Lessa.

Ainda na delação, Ronnie Lessa falou sobre supostos encontros mantidos com o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), nos últimos 25 anos. Em um dos depoimentos, o ex-policial militar pontuou detalhes dos locais visitados pelos três, sem apresentar, no entanto, provas dessas reuniões.

Loteamento clandestino como pagamento
Como mostrou o Fantástico, da TV Globo, no mesmo depoimento, Lessa disse à PF que, como pagamento para a morte da parlamentar, teria recebido dos irmãos Brazão a oferta de um loteamento clandestino, que também acabou não se concretizando. O ex-PM está preso desde 2019 pela execução de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes.

Em nota, o advogado Cléber Lopes, que defende Chiquinho Brazão, informou que "jamais existiu relação de proximidade entre o deputado e Ronnie Lessa".

“Não há como afirmar, evidentemente, que ambos nunca estiveram no mesmo ambiente, sobretudo em razão da extensa carreira pública de Chiquinho no Rio de Janeiro. Aliás, é impossível fazer prova de fato negativo. Embora Ronnie Lessa afirme ter tido encontros com o Deputado e conhecê-lo de longa data, vale o registro de que o mesmo Ronnie Lessa, há pouquíssimo tempo, declarou em juízo, ao ser interrogado em razão dos fatos que vitimaram a Vereadora Marielle Franco, que nunca esteve com o Chiquinho e que não o conhece "nem de vista”, para ser fiel aos termos utilizados.”, disse, no comunicado.

A defesa se refere a uma audiência ocorrida em outubro de 2019, no Tribunal de Justiça no Rio. Na época do interrogatório, ao ser questionado, ele negou conhecer os irmãos Brazão.

Já os advogados Marcio Palma e Roberto Brzezinski, que representam Domingos Brazão, também negaram a proximidade do parlamentar com o ex-policial militar.

“Quanto aos encontros narrados por Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, a defesa reitera não existirem elementos que sustentem a presença de Domingos Brazão em qualquer um deles, circunstância que reforça a ausência de credibilidade do relato prestado por um notório matador e traficante de armas em busca de benefícios legais.”, disseram, na nota.