Desafios e bravura marcam missão dos Bombeiros Militares de Pernambuco no Rio Grande do Sul
Cenário devastador foi encontrado pela corporação enviada ao estado gaúcho; equipe atuou em municípios como Cruzeiro do Sul, Lajeado, Arroio do Meio, Taquari e Relvado
“Mais que um cenário de guerra, o que achamos ali foi um ambiente devastador”, afirmou o major André, Comandante da força-tarefa que enviou os Bombeiros Militares de Pernambuco ao Rio Grande do Sul. O efetivo retornou ao Recife nesta segunda-feira (3), após 15 dias no estado gaúcho.
Os 21 militares recém-chegados agora vão passar por atendimento psicológico e acompanhamento médico, através de exames laboratoriais e clínicos para avaliar a saúde física dos mesmos, junto ao Hospital Oswaldo Cruz.
“Nossa equipe foi exposta a um local de catástrofe e, consequentemente, com risco de doenças, por isso, nos próximos dias, teremos esse acompanhamento e cuidado com nosso efetivo”, disse o coronel Robson Roberto, diretor geral de operações.
A missão
Cada equipe mobilizada foi destinada a atuar em um tipo de serviço nas regiões atingidas. A corporação pernambucana chegou com a missão de procurar por 39 corpos que haviam desaparecido em meio ao desastre.
Além do cenário caótico, a disparidade de temperatura foi um dos fatores que dificultou, mas não impediu a ação dos bombeiros nos locais.
“Quando chegamos, tivemos o dever de ir procurar essas pessoas desaparecidas. Lá havia muitos destroços de casas, troncos de árvores que dificultavam o acesso. Havia locais com mais de seis metros de lama. Quero fazer uma ressalva aos nossos cães que foram treinados com essa missão e executaram com maestria”, apontou major André.
Com a complexidade da situação, a equipe saiu munida de equipamentos que ajudassem no êxito da operação. “Os materiais foram fundamentais para que os militares fossem autossuficientes na operação do estado gaúcho. Esse foi um dos pedidos do governador do RS, Eduardo Leite: que as equipes atuassem o mais independente possível já que a demanda era imensa, mas isso não impediu que uns ajudassem aos outros”, destacou o comandante-geral do CBMPE, coronel Luciano.
Voluntários
Toda a equipe que seguiu para o Rio Grande do Sul, assim que foi sinalizada a necessidade pela Liga Nacional dos Bombeiros, partiu de forma voluntária.
A mobilização aconteceu com os quarteis localizados no Interior do Estado, para que não houvesse baixa nas equipes da Região Metropolitana do Recife (RMR), visto que a Operação Inverno segue acontecendo na Capital e cidades vizinhas.
“É importante reforçar que cada bombeiro que saiu para o RS foi por vontade de servir à corporação e cumprir com o compromisso de salvar vidas”, explicou o comandante-geral.
O Sargento Duque, que atua na corporação de Santa Cruz do Capibaribe, pontuou que a equipe, apesar de ser treinada para atuar em situação de desastres, presenciou um choque maior pessoalmente.
“Você ver vilarejos embaixo d’água, pessoas que perderam tudo, família com parentes desaparecidos, as cidades completamente bagunçadas, despedaça qualquer um, mas, apesar disso, cumprimos bravamente nossa missão”, disse o militar, que agradeceu a receptividade dos moradores das cidades em que passaram. “Eles agradeciam de todas as maneiras, com sorrisos, abraços, comida”, acrescentou.
O soldado Nascimento, que atuou tanto na tragédia ocorrida em 2022 na RMR quanto nessa mais recente do Sul do País, falou sobre a diferença entre os tipos de resgate.
“Aqui lidamos com deslizamento de terra e lama e lá, além do frio, o cenário era de muita devastação. O rio trouxe muito entulho, árvores inteiras que ficaram nos locais que a gente foi realizar as buscas. Onde os cachorros sinalizavam que havia algo, até chegar nesse lugar, foi muito trabalho braçal,”, disse o soldado.
Outro ponto destacado que diferencia o resgate de 2022 para esse foi a umidade do terreno. “Enquanto aqui o odor dos corpos subia muito rápido por conta da decomposição, lá, corpos com muitos dias foram encontrados em estado conservado. Isso dificultava até o trabalho dos cães”, completou Nascimento.
Gratidão
Apesar de desgastante, o sentimento da corporação era de gratidão pelo trabalho cumprido. “Foram dias difíceis, mas tínhamos um propósito. O tempo todo pensamos na nossa família e saber que eles estavam bem, aqui, nos dava forças para completar nossa missão. Pedimos a Deus que pudéssemos dar o nosso melhor, e assim foi feito. Missão foi cumprida”, finalizou o comandante da força-tarefa.