Caso Marielle: Ronnie Lessa detalha testes em motel abandonado com metralhadora que abafa ruído
Em delação, ex-policial militar diz que, por se tratar de 'missão que não poderia ter erros', efetuou disparos prévios em área na Zona Oeste do Rio
No acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Ronnie Lessa deu detalhes sobre os testes feitos com a arma utilizada nos homicídios da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O armamento foi testado em um motel abandonado em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio.
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Em um dos anexos, ao qual o Globo teve acesso com exclusividade, o ex-policial militar relatou ter efetuado disparos com a metralhadora MP5 que possuía um supressor de ruídos acoplado.
“Eu me recordei exatamente que fiz um teste mecânico da arma, disparando já com o supressor de ruídos acoplado. É de praxe toda arma acoplada com supressor de ruído tem que estar muito bem alinhada, se não pode ocasionar um acidente até grave para o atirador. Em se tratando de uma missão que não poderia ter erros, fui ter a certeza de que a arma estava em condições de ser empregada”, afirma Lessa aos investigadores.
No vídeo, o ex-PM conta ainda que os disparos foram dados na direção de um barranco no terreno do estabelecimento.
“(…) foi o momento que aproveitei para efetuar os disparos com a submetralhadora MP5 utilizada no homicídio da vereadora Marielle e aproveitei para testá-la, para saber se o supressor de ruídos estava efetivamente bem-adaptado e se ele realmente estava abafando, o termo que a gente usa genericamente. Aproveitei e disparei uma rajada curta, uns cinco ou seis tiros no máximo em um barranco, próximo ao que seria a uma nova série de apartamentos, ou seja, uma parte inacabada do motel”, diz.
Ainda no depoimento, Lessa aponta que os tiros teriam ficado alojados na terra:
“Era uma parte inacabada do motel, que tinha uma sequência de uns dez apartamentos em um barranco pequeno. Eu posicionei a metralhadora e disparei uma rajada curta, acredito de cinco ou seis disparos, no máximo. Esses projetéis estão alojados na terra. Como nós sabemos, um disparo feito na terra, no barranco, não ultrapassa 30 ou 40 centímetros de penetração. É de fácil resgate dos projetis, inclusive dos estojos. Eu não tive preocupação de catá-los, é muito provável até que se ache também”.
Após as declarações prestadas por Lessa, os investigadores da PF chegaram a realizar diligências no motel a fim de tentar localizar os fragmentos de balas decorrentes desses disparos. A medida, no entanto, acabou sendo frustrada, já que o administrador do lugar indicou que em 2018 e 2019 contratou um "trator pequeno para fazer a limpeza da área".
Essas informações constam no relatório final da corporação sobre os homicídios de Marielle e Anderson. No documento, a PF aponta que, segundo informações repassadas por Lessa, a metralhadora MP5 foi obtida da comunidade Rio das Pedras, também na Zona Oeste da cidade, com a exigência de ser devolvida após a execução do crime.
"Entretanto, quando Ronnie começa a discorrer sobre as características da arma se depreende o motivo da referida exigência. Certamente se tratava de arma apreendida ou vinculada ao arsenal de alguma força de segurança pública, ante o caráter restrito do armamento", diz a PF, no relatório.
Também na delação, Lessa afirma que os mandantes do homicídio são o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão. Segundo o ex-PM, o então chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa teria ajudado a planejar o crime e atuado para proteger os Brazão. Todos estão presos preventivamente e negam.