Modi, o filho do vendedor de chá que se tornou um ídolo nacionalista na Índia
Ele era um aluno mediano, mas sua habilidade de oratória começou a se destacar como membro do clube de debate de sua escola
Outrora desprezado e agora cortejado pelo Ocidente, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que acaba de vencer as eleições pela terceira vez, afastou o país de suas tradições seculares e o aproximou das políticas pró-hindus que defendeu durante décadas.
A sua ascensão política foi manchada por denúncias de responsabilidade pelos piores distúrbios religiosos deste século na Índia, e o seu mandato coincidiu com a crescente hostilidade para com os muçulmanos e outras minorias.
No entanto, uma década depois de chegar ao poder, o líder de 73 anos é consistentemente classificado como um dos governantes mais populares do mundo.
Seus seguidores celebram sua imagem de homem firme, reforçada por seu perfil de defensor da fé majoritária da Índia e dos mitos que exaltam suas origens humildes.
“Eles não me amam por causa das minhas origens humildes”, disse ele em comícios antes das últimas eleições, em uma crítica aos seus rivais.
Modi nasceu em 1950 no estado de Gujarat, no oeste do país, o terceiro de seis irmãos cujo pai vendia chá em estações ferroviárias.
Ele era um aluno mediano, mas sua habilidade de oratória começou a se destacar como membro do clube de debate de sua escola e pela participação em apresentações teatrais.
O seu destino político foi marcado aos oito anos de idade, quando se juntou ao Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), um grupo nacionalista hindu de linha dura.
Lá, Modi se dedicou a promover a supremacia hindu na Índia secular, chegando a abandonar um matrimônio arranjado logo após se casar aos 18 anos.
Permanecer com a esposa, de quem não se divorciou oficialmente, teria atrasado o seu avanço nas fileiras do RSS, que requer o celibato de seus líderes.
Distúrbios mortais
O RSS preparou Modi para uma carreira em sua ala politica, o Partido Bharatiya Janata (BJP).
Ele foi nomeado ministro-chefe de Gujarat em 2001 e, no ano seguinte, o estado foi abalado por distúrbios sectários desencadeados por um incêndio que matou dezenas de peregrinos hindus.
Pelo menos 1.000 pessoas morreram na violência que se seguiu, sendo os muçulmanos as principais vítimas. Modi foi acusado de ajudar a desencadear os tumultos e de não ordenar uma intervenção policial.
Uma investigação do mais alto tribunal da Índia determinou que não havia provas para acusar Modi, mas durante anos ele foi impedido de entrar nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Apesar disso, sua popularidade não parou de crescer na Índia. Modi construiu uma reputação de líder disposto a defender os interesses dos hindus, que ele acreditava serem marginalizados pelas forças seculares que governaram o país quase que continuamente desde a independência do Reino Unido.
"Uma nova história"
Modi se tornou primeiro-ministro em maio de 2014. Desde então, seus críticos têm alertado para a perseguição aos rivais políticos e o controle de uma imprensa outrora vibrante.
Ao mesmo tempo, a comunidade muçulmana de mais de 200 milhões de habitantes teme pelo seu futuro.
Após sua ascensão ao poder, a Índia viveu uma onda de linchamentos de muçulmanos pelo abate de vacas, animal sagrado na tradição hindu.
Mas os países ocidentais deixaram de lado as suas preocupações para cultivar um aliado regional capaz de combater a China.
No ano passado, Modi discursou perante uma sessão conjunta do Congresso dos EUA e foi recebido pelo presidente Joe Biden para uma visita de Estado à Casa Branca.
Ele assume o crédito pela crescente influência diplomática e econômica da Índia e diz que sob a sua liderança o país se tornou um "vishwaguru" - um professor para o mundo.
Modi afirma que a Índia está assumindo o seu lugar de direito no mundo depois de ser subjugada pelo império mongol muçulmano e depois pela colonização britânica.
Seu projeto transformador teve um marco em janeiro, quando Modi presidiu a inauguração de um templo hindu na cidade de Ayodhya, construído em um terreno onde existiu durante séculos uma mesquita muçulmana mongol, destruída em 1992 por fanáticos hindus.
Modi disse na cerimônia que o templo mostrava que a Índia estava superando “a mentalidade de escrava”. “A nação está criando a gênese de uma nova história”, declarou ele.