Alagoas

Prefeito de Maceió recua de acordo com Lira e embaralha planos do presidente da Câmara para 2026

Cacique do PP planejava indicar vice de JHC, que adia definição para o "momento correto". Senador que contrariou Lira com 'taxa das blusinhas' desponta como favorito

JHC e Lira em Maceió: prefeito e presidente da Câmara vivem desacordo sobre composição de chapa à prefeitura - Reprodução/Redes sociais

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sofreu um revés na articulação política em seu estado natal e perdeu espaço na composição eleitoral do aliado João Henrique Caldas (PL), prefeito de Maceió e conhecido pelo apelido JHC. Lira havia acordado a indicação do candidato a vice na chapa de JHC, que tenta se reeleger neste ano e já prepara terreno para a próxima corrida eleitoral, em 2026.

Agora, além de lançar uma incógnita sobre a formação da chapa, o prefeito acenou a aliados com uma candidatura ao Senado, justamente o cargo que Lira pretende disputar daqui a dois anos.

Nesta quarta-feira, em meio a um afago a Lira nas redes sociais, no qual defendeu a manutenção da “maior e melhor aliança política de Alagoas”, o prefeito de Maceió delimitou que a formação da chapa segue em discussão.

“O diálogo amistoso continua. As decisões políticas serão anunciadas no momento correto”, escreveu JHC.

Lira buscava indicar um aliado de sua estrita confiança para o posto de vice, que pode assumir a prefeitura em 2026 caso JHC seja reeleito e depois se afaste para disputar a eleição estadual. O prefeito de Maceió, contudo, passou a trabalhar nas últimas semanas pela composição com um aliado de longa data, o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), com quem Lira não tem relação das melhores.

Na terça, em um sinal da disputa por espaços, Cunha retirou de um projeto em análise no Senado, do qual é relator, a taxação para compras internacionais de até US$ 50. O projeto em questão cria o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), e pode ser votado nesta quarta. A inclusão da taxa fazia parte de um acordo entre a cúpula do Congresso e o governo federal. Lira foi surpreendido pela mudança anunciada por Cunha, que expôs o presidente da Câmara, antes fiador da medida, a um desgaste público.

O episódio incendiou a disputa pela vaga na chapa do atual prefeito de Maceió, que já havia começado a pender a favor de Cunha. A mãe de JHC, Eudócia Caldas, é suplente de Cunha no Senado e herdará o mandato caso o atual senador se torne vice-prefeito. Apesar de não se comprometer com a formação da chapa, JHC afirmou nesta quarta que tem “relação de imenso respeito e amizade” com Lira.

Calheiros beneficiado
Interlocutores do prefeito afirmaram reservadamente ao GLOBO que ele espera convencer Lira a também apoiar uma chapa com Rodrigo Cunha como vice, e evitaram falar em “rompimento” com o presidente da Câmara. A avaliação tanto de aliados quanto de adversários do prefeito é de que Lira segue com espaços relevantes na gestão de Maceió, com indicações nas secretarias de Saúde e de Educação. Caso não apoie JHC, a principal aposta de Lira para a prefeitura seria o ex-deputado Davi Davino Filho (PP), que deixou a prefeitura na semana passada para ficar apto a concorrer.

O possível racha beneficiaria o grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL), notório desafeto de Lira e também rival de JHC. Calheiros lançou o deputado federal Rafael Brito (MDB-AL) como candidato de oposição ao atual prefeito na capital alagoana.

-- Nosso rival é e sempre foi JHC. Com ou sem Arthur (Lira), continua sendo um prefeito incompetente – afirmou Brito.

Antes do abalo na relação, Lira articulava sua candidatura ao Senado em 2026 na expectativa de ter JHC como postulante ao governo estadual na mesma chapa. O prefeito de Maceió, contudo, vem cogitando também concorrer ao Senado, que terá duas cadeiras em disputas na próxima eleição. Com isso, evitaria um confronto direto pelo Executivo estadual com o grupo do governador Paulo Dantas (MDB), aliado dos Calheiros. A tendência é que o atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), concorra à sucessão de Dantas em 2026.

Embora uma mudança de rota de JHC não inviabilize a candidatura de Lira, há o risco de dificultar a caminhada do presidente da Câmara, ao inflar a concorrência pelas cadeiras ao Senado. Renan também deve tentar outro mandato de senador em 2026.

Alternativa improvável
Lira, por ora, não sinaliza intenção de retaliar JHC pelos desencontros recentes. Aliados de Renan, por sua vez, não descartam uma composição informal do senador com Lira daqui a dois anos, embora considerem a alternativa improvável.

Lira e Renan são desafetos de longa data, mas a avaliação no MDB alagoano é de que os Calheiros não iriam contrariar a aliança caso o pedido parta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seria uma eventual tentativa de isolar o prefeito de Maceió, hoje aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2010, Renan e Biu de Lira (PP), pai do atual presidente da Câmara, fizeram uma composição similar contra a então senadora Heloisa Helena, crítica da gestão federal petista.

Apesar de uma relação marcada por fricções entre Lira e o governo Lula, o presidente da Câmara já foi cotado para um ministério em 2025, quando se encerra seu mandato à frente da Casa.