Caso Marielle: Ronnie Lessa diz que usou app para fugir de blitz
Em delação, ex-policial militar contou ter ligado o celular dentro do carro enquanto esperava vereadora sair de evento, momentos antes do homicídio
No acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Ronnie Lessa relatou ter utilizado um aplicativo que apresenta a localização de blitzes no Rio. Em um dos depoimentos, o ex-policial militar narra ter ligado o celular dentro do carro enquanto esperava a vereadora Marielle Franco sair de um evento na Casa das Pretas, na Região Central da cidade, pouco antes de executá-la a tiros, próximo dali.
“Nas imagens divulgadas, aparece a luz de um telefone sendo mexido lá atrás. Eu estava procurando um aplicativo que mostra as blitzes na rua, onde tem blitz. Porque não adianta cometer o crime aqui e ser preso na esquina. (…) A única vez que acessei o celular foi para ver esse aplicativo das blitzes. Não lembro o nome, mas ele diz exatamente onde estão as barreiras”, contou Lessa.
Em um dos anexos, ao qual O Globo teve acesso com exclusividade, o ex-PM afirmou que, a princípio, o planejamento era que o homicídio da parlamentar se desse justamente em seu deslocamento a pé entre a Casa das Pretas até o carro, onde estava o motorista Anderson Gomes.
Lessa diz, no entanto, que, durante a espera por Marielle, se deu conta de que o Museu da Polícia Civil e a própria sede da instituição ficam na Rua da Relação, na esquina com a Rua das Inválidos, portanto, a cerca de 50 metros da Casa das Pretas. Por esse motivo, Élcio Queiroz, que dirigia o veículo onde ele estava, perseguiu o carro de Marielle:
“Eu falei: aqui não, de jeito nenhum. Então preferimos deixar para fazer no caminho, onde tivesse oportunidade”.
Na ocasião, além da vereadora, foi atingido pelos disparos da submetralhadora MP5 o motorista dela, que também morreu na hora. A assessora Fernanda Chaves, que estava no banco de trás do veículo, não foi ferida.
No depoimento, Lessa aponta que a demora para colocar em prática o plano para matar Marielle se deu por supostas exigências feitas pelo então chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa aos suspeitos de serem os mandantes do crime - o deputado Chiquinho Brazão e seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão.
"Em relação a Rivaldo Barbosa, Ronnie Lessa declarou que aceitou a empreitada homicida, pois os irmãos Brazão expressamente afirmaram que o então chefe da Divisão de Homicídios da PCERJ teria contribuído para preparação do crime, colaborando ativamente na construção do plano de execução e assegurando que não haveria atuação repressiva por parte da Polícia Civil", escrevem os investigadores da PF no relatório final.
No documento, é relatado que Lessa contou que Barbosa exigiu que Marielle não fosse executada “em trajeto de deslocamento de ou para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pois tal fato destacaria a conotação política do homicídio, levando pressão às forças policiais para uma resposta eficiente”.
Presos preventivamente desde 24 de março, Rivaldo Barbosa e os irmãos Brazão negam participação no crime.