CINEMA

Tânia Alves: homenageada do Cine PE fala sobre cinema, novelas e vida pessoal

A atriz e cantora Tânia Alves estrelou filmes como "O Olho Mágico do Amor" e "Parahyba Mulher Macho"

Tânia Alves, atriz e cantora - Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Com mais de 50 anos de carreira, Tânia Alves é a grande homenageada da 28ª edição do Cine PE, que começou ontem e segue até o dia 11 de junho. Atriz e cantora, a carioca protagonizou clássicos no cinema, no teatro e na televisão, ficando marcada por personagens nordestinas.

“Ser homenageada em um evento desse porte já é uma coisa tão gloriosa e me deixa muito emocionada, porque eu tenho muitos vínculos com Pernambuco. Meu pai era pernambucano de Casa Amarela. Então, já começa por aí”, revelou a artista.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Tânia Alves ainda falou sobre o afastamento das novelas, relembrou momentos importantes da carreira e “abriu o jogo” sobre a vida pessoal. 

 
 
 
 
 
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Cinema nacional
Quando comecei a minha carreira, nos anos 1970, veio tudo junto. Meu primeiro filme foi "Trem Fantasma" e pouco tempo depois veio "O Olho Mágico do Amor". De repente, aconteceu aquele vácuo no cinema nacional. Quando retomou, nos anos 1990, era outra coisa completamente diferente. Eu acho que a parte técnica melhorou muito. Criaram-se famílias de cinema, mas eu sempre fui muito livre. Nunca pertenci a uma “panelinha” específica. Fiz vários tipos de filmes, com turmas completamente diferentes.

Papéis nordestinos
Comecei em um grupo de teatro nordestino, o Grupo Chegança, que tinha o conceito de adaptar o cordel para musicais. Um trabalho deslumbrante do pernambucano Luiz Mendonça, que foi o meu mestre. Fico emocionada, porque devo a ele saber como pisar no palco. Como todos os diretores de cinema e televisão daquela época iam assistir teatro, eles viam que eu tinha um arquivo incrível e sabia fazer o papel nordestino. Isso não aprendi com o meu pai, mas com colegas nordestinos que estavam chegando ao Rio de Janeiro. 

Novelas
Não deu tempo [de sentir saudades das novelas]. Sempre estive muito ocupada com outros projetos na música e no audiovisual. Claro que um salário fixo é muito bom. É a única coisa que eu sinto falta. As pessoas me perguntam se eu não trabalho mais e eu respondo: “Gente, existe vida além da TV Globo”. Trabalho e muito. Minha vida é de cigana, desde sempre. 

Machismo
Venho de uma família disfuncional, com violência doméstica. Vivi na pele o machismo mais tóxico que você pode imaginar, com o pai e com o meu primeiro marido, que era 20 anos mais velho que eu, mas nunca me considerei vítima. Tudo o que eu tive que enfrentar me ensinou muito. Quando eu fiz “Parahyba Mulher Macho” (1983), políticos do Brasil inteiro queriam fazer festas em minha homenagem, mas eu não aceitava. No fundo, tinha um grande medo de assédio. Não saberia como lidar e não se falava sobre isso naquela época.

Símbolo sexual 
Nunca gostei de rótulos. Eu fiz “Morte e Vida Severina”, que colocaram um esmalte nos meus dentes para parecer todo estragado. Fiz “Órfãos da Terra”, onde eu era uma mãe. Não fazia só coisas com essa tal de sensualidade que as pessoas falavam tanto e que eu não sei de onde vem, porque não uso isso. Sou muito física, tenho um lado animal muito forte. Acho que esse prazer de viver, essa força da natureza em mim é que as pessoas recebem como uma força sexual. Mas, para mim, não tem pecado. Nunca tive problema com nudez. Aliás, naquela época, se não tivesse cena de nudez não tinha cinema. No Brasil, era só Os Trapalhões e pornochanchada. Depois veio o ensaio para a Playboy, que fiz para pagar aluguel.