VISITA

Cristovam Buarque e Edmar Bacha visitam a Folha de Pernambuco

Eles estão no Recife para fazer o lançamento, no sábado (8), do livro "Conversa com Edmar Bacha"

Arthur Mota\Folha de Pernambuco

O ex-ministro Cristovam Buarque visitou a Folha de Pernambuco, na manhã desta sexta-feira (7), acompanhado da esposa, Gladys Buarque, do economista Edmar Bacha e do idealizador/codiretor do Cine PE e colunista de economia do jornal, Alfredo Bertini. Os quatro foram recebidos pelo diretor Executivo da Folha, Paulo Pugliesi, o diretor Operacional José Américo Góis e a editora-chefe Leusa Santos. Buarque está no Recife para lançar o livro "Conversa com Edmar Bacha", amanhã, no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), na Rua do Hospício, às 15h.

A obra se trata de uma entrevista na qual Bacha rememora os papéis que desempenhou na economia e na educação brasileira, bem como analisa e discute com Buarque temas recentes da economia brasileira. Ministro da Educação durante o primeiro governo Lula, Cristovam foi criador do programa de transferência de renda Bolsa Escola, posteriormente incorporado no nível federal pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e renomeado como Bolsa Família pelo governo Lula.

Bacha é o principal formulador e implementador do Plano Real durante o governo Itamar Franco (1992-95). Antes de assumir o plano de estabilização monetária, o economista era conhecido como um dos criadores de programas de pós-graduação em Economia no País e presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O livro
Em “Conversa com Bacha”, Cristovam, entre outras coisas, propõe reflexões para relembrar o passado brasileiro desde os anos 1960 e imaginar o que o futuro guarda para a nação. “O Bacha fala (no livro) muito disso (as ideias, mesmo um sendo engenheiro e o outro e economista), que eu acho muito importante, fala também dos planos que nós tivemos: o real e o cruzado”, lembrou Buarque.

Desigualdade
Quanto ao reflexo da desigualdade social na educação hoje, comparado a década de 1970, Cristovam acha que só aumentou. “A educação do pobre é bem melhor que a de 30 anos atrás, mas a educação do rico é muito melhor, cresceu mais de maneira que a brecha aumentou. Por exemplo, os pobres tinham inglês nas escolas. Hoje, algumas têm. Nas escolas de classe média alta já tem meninos em escola bilingue, e os que não estão, vão fazer intercâmbio”, afirmou.

Brechas
Três brechas aumentaram, mesmo melhorando (a educação), na visão de Buarque: entre educação dos ricos e pobres, entre outros países e o Brasil e entre o que é preciso conhecer e o que é ensinado. Bacha lembrou de outra brecha: o percentual entre mulheres e homens.

Renda
A desigualdade escolar é, segundo Buarque, o vetor principal da desigualdade social. Para ele, não se vê no Brasil catando lixo na rua no Brasil quem fale inglês, quem teve um bom ensino médio e quem tem um ofício. “Mas uma coisa boa aí é a ideia da armadilha da renda média que o Brasil não conseguiu se livrar. A gente subiu até uma certa renda per capta”, explicou, acrescendo que da década de 1980 para cá a renda subiu, mas muito pouco. “Nos anos 1960, o Brasil tinha uma renda per capta maior do que a da Coreia. Hoje, é um terço”, complementou Bacha.

Produtividade
De acordo com Bacha, o Brasil hoje é praticamente urbano, com 85% da população morando fora do campo. Então, diz ele, a única maneira de continuar crescendo a produtividade é fazendo com que todo mundo cresça junto, como o agro conseguiu fazer. “O crescimento da produtividade do agro era um quinto da produtividade da indústria. Hoje, a produção por trabalhador (no agro) está emparelhada com a da indústria, que ficou parada porque está voltada para si mesma, para dentro do país, o contrário da Coreia do Sul”, analisou o economista.

Lula
Ao comparar a gestão atual do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com as anteriores, Cristovam usou uma analogia curiosa. “Se eu analiso Lula comparado com os últimos anos, é uma boa âncora. Agora, se eu analiso Lula para o futuro, não o vejo sinalizando. Por exemplo, quando é que a gente vai viver no Brasil sem precisar de Bolsa Família? Isso não pode ser para sempre. Quando é que, além de proteger a floresta, a gente vai descobrir como transformá-la em um grande vetor do progresso?”, indagou.

Lula II
Ainda sobre o presidente, Buarque arrematou: “Ele chegou de volta, trouxe uma âncora, uma batuta de maestro, mas, mesmo assim, a orquestra é desafinada porque os músicos são péssimos. Ele é até um bom maestro, mas os músicos que ele tem roubam o violino”, destacou.