União Europeia elege Parlamento sob a sombra da extrema direita
Em eleições que terminam neste domingo, milhões de eleitores votam para eleger os 720 deputados do órgão
As eleições para renovar o Parlamento da União Europeia, o braço Legislativo da União Europeia (UE) e único órgão eleito no bloco, terminam neste domingo e devem marcar o início de uma guinada conservadora. Milhões de eleitores na maioria dos 27 países do bloco votam para eleger os 720 deputados do órgão — e a expectativa é que os resultados indiquem o fortalecimento da extrema direita.
A maratona de votação deste domingo encerra um ciclo eleitoral de quatro dias que começou na última quinta-feira. A rodada de eleições testará a confiança dos eleitores em um bloco de cerca de 450 milhões de pessoas. Nos últimos cinco anos, a UE foi abalada pela pandemia, recessão econômica e pela crise energética alimentada pelo maior conflito terrestre na Europa desde a Segunda Guerra. As campanhas políticas, porém, muitas vezes deixam de lado as questões mais amplas e se concentram em interesses dos países individuais.
Entenda a votação
A eleição dos parlamentares é o primeiro passo da renovação dos dirigentes da UE: os presidentes da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, e do Conselho, que representa os países do bloco. Pesquisas apontam que a centro-direita deve se consolidar como a maior força no Parlamento, embora também conte com a presença cada vez mais forte da extrema direita, que promete conquistar o terreno outrora ocupado pela centro-esquerda e pelos ambientalistas.
Os legisladores da UE têm voz em questões que vão desde regras financeiras até políticas climáticas e agrícolas. Eles aprovam o orçamento do bloco, que financia prioridades como projetos de infraestrutura, subsídios agrícolas e ajuda entregue a Kiev. O resultado deste domingo, portanto, deverá redefinir o mapa político da UE nos próximos cinco anos num momento em que o bloco enfrenta questões como a guerra na Ucrânia e negociações comerciais.
Segundo as projeções, o Partido Popular Europeu (EPP, de centro-direita), deve manter o posto de principal agrupamento no Parlamento, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D, de centro-esquerda), e pelo Renovar a Europa (Centro), que deve perder espaço para a direita tradicional dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), e para o Identidade e Democracia (ID), de extrema direita. As sondagens apontam que os partidos de extrema direita podem obter até um quarto das cadeiras, a ponto de ameaçar a bancada dos Verdes.
— Nós temos um objetivo claro: queremos fazer em Bruxelas o que fizemos em Roma há um ano e meio, construir um governo de centro-direita na Europa, e finalmente mandar os esquerdistas, vermelhos, amarelos e verdes, que causaram tantos danos ao nosso continente ao longo dos anos, para a oposição — disse, em discurso de encerramento de campanha, a premier italiana, Giorgia Meloni, um dos ícones modernos da extrema direita europeia e da antipolítica.
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Com os resultados anunciados, a distribuição das cadeiras ocorre de forma proporcional: se um partido obtiver 25% dos votos, terá 25% dos assentos destinados àquele país, um número definido de acordo com a população. A Alemanha, maior país do bloco, terá 96 cadeiras, enquanto a França, segundo maior, terá 81. Chipre, Luxemburgo e Malta terão seis representantes cada. O número de eurodeputados muda a cada ano, com limite de 750. Em 2019, última eleição, eram 705 vagas em disputa.
Promessas de campanha
Durante o período de campanha, houve promessas para restringir a imigração (em especial de não europeus), reverter políticas energéticas e atacar legislações ambientais. Discursos que já ecoam positivamente entre uma parcela crescente do eleitorado no continente, aliados à ideia de “insatisfação” com as lideranças políticas ditas “tradicionais”. Muitos eleitores europeus, atingidos pelo alto custo de vida – e em alguns casos temendo que os imigrantes sejam a fonte dos males sociais – estão cada vez mais persuadidos pelas mensagens populistas.
Desde a última eleição da União Europeia, em 2019, partidos populistas ou de extrema direita lideram governos em três nações (Hungria, Eslováquia e Itália) e fazem parte de coalizões governamentais em outros países, incluindo Suécia, Finlândia e, em breve, os Países Baixos. As pesquisas dão vantagem aos populistas também na França, Bélgica, Áustria e Itália.