OPINIÃO

Decifrando o segredo de arriscar a própria pele nos negócios

Os produtos, serviços, empresas ou profissionais que levam o seu nome transmitem mensagens valiosas de comprometimento e confiança. Associar seu nome ao que oferece mostra que tem algo a perder, um princípio central no conceito de "arriscar a própria pele".

Lembremos aqui alguns exemplos Amazon, com Jeff Bezos; Tesla com Elon Musk; Apple, com Steve Jobs; Microsoft, o Bill Gates; Pão de Açúcar: Abílio Diniz; Votorantim: Antônio Ermínio; SBT: Silvio Santos ; Arezzo: Família Birman; Adidas: Adolf Dassler; Casas Bahia: Samuel Klein; Bompreço e JCPM: João Carlos Paes Mendonça; Rio Ave: Alberto Ferreira da Costa; Casa dos Frios: Fernanda Dias; EQM: Eduardo de Queiroz Monteiro.

Assim como marcas que levam o próprio nome dos seus fundadores como Gucci, Giorgio Armani, Magazine Luiza, Moura Dubeux, Brennand, Queiroz Galvão, Ferreira Costa, Mateus, Moura Baterias. Todos mostram que colocar o próprio nome implica em assumir riscos financeiros e de reputação.

Impacto das decisões nos negócios
Assumir riscos financeiros e de reputação é fundamental, como destacado por Nassim Taleb, renomado por seus estudos sobre incerteza e riscos. Taleb enfatiza a importância de ter algo em risco nas decisões, especialmente nos negócios.

Previsões econômicas
As previsões econômicas frequentemente falham por não reconhecer que o comportamento individual pode ser drasticamente diferente do comportamento do mercado. Taleb critica aqueles que impõem riscos aos outros sem enfrentar as consequências, contrastando com empreendedores que assumem riscos pessoais.

Temos exemplos práticos como os cassinos e as apostas, as famosas BETS. Há uma diferença entre cem pessoas indo a um cassino e uma pessoa indo a um cassino cem vezes. Algumas delas podem perder, algumas podem ganhar, e no fim do dia podemos inferir qual é a “margem” de risco baseado no comportamento de todos. 

Podemos calcular com segurança, a partir da nossa amostra que, por exemplo, cerca de 1% dos apostadores perderá tudo. Assim o Cassino avalia a probabilidade de perder. As probabilidades de sucesso de um grupo de pessoas não se aplicam para cada indivíduo.

Em outras palavras, é importante avaliar os riscos individualmente e não apenas confiar na média ou no comportamento coletivo, pois isso pode levar a uma compreensão imprecisa dos riscos reais envolvidos.

Os modelos das apostas de jogos de futebol e as famosas Bets
O  modelo de risco utilizado em Cassinos é semelhante ao usado em casas de apostas de jogos de futebol, conhecidas como Bets. 

Nos Cassinos e Bets envolvem a avaliação de probabilidades e o gerenciamento de riscos associados às apostas. Ambos usam a modelagem do comportamento da maioria para definir seus riscos, definido por Taleb como Ergodicidade.

Ergodicidade é um conceito que, na prática, destaca a diferença entre o comportamento de um grupo ou mercado ao longo do tempo e os riscos individuais em um negócio.

Simples assim, os Cassinos e as Bets são um outro negócio que sempre ganham, na média comportamento! É como no caso do comportamento do Formigueiro. Usando a metáfora do formigueiro, o comportamento do formigueiro como um todo é diferente do comportamento de uma formiga individual. 

Nunca entre no rio com os dois pés, mas pise na água primeiro antes de entrar. É uma maneira de dizer que devemos testar e entender os riscos em pequena escala antes de nos comprometermos totalmente, o que está alinhado com o conceito de ter "pele no jogo" e assumir as consequências de nossas decisões. 

Da mesma forma, a média de profundidade de um rio não caracteriza o risco de áreas de profundidade maior, que podem ser perigosas. “Nunca atravessar um rio se ele tiver em média 1,20 metro de profundidade”, diz Taleb.

A média aumenta o risco de perder. Não confie suas decisões na média. O que é bom para a média de muitos pode não ser bom para o indivíduo ao longo do tempo. 

Decisões financeiras, como investimentos nos negócios, devem levar em conta a possibilidade de trajetórias individuais, e não apenas a média estatística, para evitar resultados potencialmente desastrosos.
Avaliar riscos individualmente é crucial, pois as probabilidades de sucesso de um grupo não se aplicam necessariamente a cada indivíduo.

Relações assimétricas
Nos negócios, há frequentemente assimetria de informação. A experiência de enfrentar as consequências diretas de suas ações promove transparência e confiança.

Taleb sugere que risco e consequência devem ser proporcionais. A confiança deve estar em quem já arriscou a própria pele. Exemplos incluem a crítica de Taleb a jornalistas que opinam sobre ações da Microsoft sem tê-las.

Seja crítico com conselhos financeiros e modelos estatísticos. Modelos são simplificações da realidade e podem não considerar a variabilidade das experiências individuais.


As assimetrias na tomada de decisões
Imagine um analista de investimentos que dá conselhos sobre ações para seus clientes. Ele pode falar eloquentemente sobre teorias de investimento, mas nunca investiu seu próprio dinheiro no mercado de ações. Essa assimetria ocorre quando alguém está disposto a dar conselhos sem nunca ter arriscado a própria pele.

Warren Buffett considerado um dos mais bem-sucedidos investidores do mundo, não aceita nem ouve conselhos de quem nunca colocou sua pele em riscos. 

Uma citação famosa de Warren Buffett, que reflete sua visão sobre as recomendações de analistas de mercado, que não arriscam a própria pele. Falam, mas desconhecem os riscos do que falam. 

"Wall Street é o único lugar onde as pessoas chegam em um Rolls-Royce para obter conselhos daqueles que pegam o metrô.". Essa citação destaca a ironia de investidores ricos buscando conselhos de analistas que podem não ser tão financeiramente bem-sucedidos quanto eles.

Como alguém que já arriscou a própria pele como empreendedor, executivo e Conselheiro Mentor concluo esse artigo com a perspectiva de que a experiência direta é vital. Tornei-me um 'aniquilador de assimetrias' e analista com visão ergódica.

*Conselheiro mentor de negócios, membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira do Comércio Exterior (Funcex) e CFO sob Demanda