Quadrinhos

Ativista negro do século 19, Emiliano Mundurucu protagoniza HQ lançada pela Cepe

A publicação tem roteiro de Paulo Santos, layout de Eloísio Libório Melo e arte-final de Luciano Félix

Paulo Santos escreveu o roteiro da HQ há cerca de 20 anos - Leopoldo Conrado Nunes/Cepe

Com uma existência ligada à luta contra a escravidão e passagem pela Confederação do Equador, o ativista e revolucionário pernambucano Emiliano Felipe Benício foi destes heróis nacionais que teve sua trajetória ofuscada na História do Brasil.

Emiliano Mundurucu – sobrenome adotado pelo ativista – era negro e foi pioneiro na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, no século 19. Sua história está sendo resgatada no novo título do Selo Cepe HQ. 

“Mundurucu na Confederação do Equador”, romance gráfico criado por Paulo Santos, Libório Melo e Luciano Félix, mistura ficção com fatos e personagens reais, como frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, o popular frei Caneca. 

A HQ será lançada nesta quinta (13), a partir das 19h, na Livraria do Jardim, que fica no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. Haverá, também, bate-papo aberto ao público, com Paulo Santos, Luciano Félix, o jornalista e escritor Homero Fonseca, o historiador George Cabral e Liliane Tavares.

HQ
“Faz um bom tempo, venho me dedicando à História de Pernambuco. E, nas minhas pesquisas, encontrei essa figura fascinante, ainda praticamente desconhecida”, afirma Paulo Santos. 

Há cerca de 20 anos, Paulo escreveu o roteiro da HQ. “Por falta de tempo e de verba, o projeto ficou na gaveta e só pôde ser finalizado agora”, comenta. 

Imagem: Reprodução

Com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, “Mundurucu na Confederação do Equador” tem layout do ilustrador, caricaturista e quadrinista Eloísio Libório Melo – falecido em janeiro de 2020 – e arte-final de Luciano Félix.

Em 158 páginas, os autores contam a trajetória do pernambucano que participou de atividades antirracistas no Brasil e nos EUA, inspirando vários ativistas afro-americanos, em 158 páginas de muito humor, ação e poesia. 

“É um título feito para que os leitores se divirtam enquanto aprendem um bocado de coisas sobre Pernambuco e o Brasil no início do século 19, quando o País, recém-liberto de Portugal, estava em formação”, diz Paulo Santos. “E vai despertar o interesse pela História, Política, Justiça e pelo fim de todos os preconceitos raciais e sociais.”

Mundurucu
A publicação coincide com o bicentenário da Confederação do Equador, movimento de caráter republicano ocorrido em Pernambuco, com adesão de outros Estados nordestinos, em 1824. “Sabe-se muito pouco sobre Emiliano Mundurucu, inventei uma biografia para ele, mas a tentativa de expulsar os brancos de Pernambuco e as atividades nos EUA são reais”, diz Paulo Santos. 

Mundurucu é autor do processo judicial mais antigo em defesa dos direitos dos negros nos EUA, com registro em jornais da época. A ação foi movida em 1833 contra o capitão de um navio no qual ele viajava com a esposa e a filha pequena, após serem vítimas de preconceito racial.

“Abolicionista radical, liderou um movimento para replicar, aqui, o que aconteceu no Haiti, em fins do século 18, quando os brancos foram todos expulsos pelos negros. Só não conseguiu seu intento porque ocorreu algo absolutamente extraordinário, que é narrado no livro. E, mais adiante, exilado na América do Norte, tornou-se um ícone da luta contra o supremacismo branco, por lá”, destaca Santos.

O autor lançou mão tanto de dados biográficos e fatos reais como de ficção. Na biografia inventada, os caminhos de Emiliano e frei Caneca – líder e figura mais lembrada da Confederação do Equador, arcabuzado em 13 de janeiro de 1825 – se cruzam quando o ativista é muito jovem. 

“O major Mundurucu teria sido incumbido por frei Caneca de cumprir uma missão secreta, enquanto é ferozmente perseguido pelas tropas imperiais que ocupavam Pernambuco. E haja correrias, aventuras e encontros amorosos”, relata Paulo Santos ao destacar uma das “peripécias fictícias” do livro, que estabelece um diálogo entre a história e a contemporaneidade. 

Acessibilidade
A HQ, com ferramenta de audiodescrição, é acessível para pessoas cegas. O trabalho foi desenvolvido pela empresa Com Acessibilidade, por Sílvia Albuquerque, Liliana Tavares, Michele Alheiros e Edson Amorim.

SERVIÇO
Lançamento de "Mundurucu na Confederação do Equador"
Quando: Quinta-feira (13), a partir das 19h
Onde: Livraria do Jardim | Avenida Manoel Borba, 292, Boa Vista - Recife/PE
Entrada gratuita
Preço da HQ: R$ 70 (impresso) e R$ 35 (e-book)