Paris Hilton usou sobrenome e "mergulhou" na fama para construir o próprio império
Fundadores de rede de hotéis mundialmente conhecida, avô e bisavô de Paris Hilton decidiram doar fortuna para instituições de caridade em vez de repassá-la às gerações seguintes
Paris Hilton poderia ter herdado um império, mas só lhe restou o sobrenome. Socialite é o rosto mais famoso de um dos nomes mais conhecidos do mundo — e a "jovem-problema" de uma família que, além de fama, riqueza e escândalos, guarda uma das histórias mais peculiares dos anais das empresas familiares: seu avô e seu bisavô, grandes patriarcas que forjaram o universo hoteleiro Hilton, doaram quase toda a fortuna. Sem herança, Paris fez a própria fortuna "mergulhando" na fama.
Em 1919, Conrad Hilton comprou o Mobley Hotel em Cisco, uma cidade desconhecida no Texas. Ele pagou US$ 40 mil. Poderia muito bem ser considerado um alojamento hoteleiro: os quartos eram alugados por períodos de oito horas para coincidir com os turnos de trabalho nos poços de petróleo da região. O sucesso foi tanto que ele acabou transformando a sala de jantar em novos ambientes. Hilton se expandiu primeiro pelo Texas e estados vizinhos. Três décadas depois, em 1949, já estava consolidada a primeira cadeia de hotéis do mundo com a abertura do Caribe Hilton, em San Juan, Porto Rico.
Conrad teve quatro filhos, Conrad, Barron, Eric e Francesca. Seus dois filhos mais velhos, Conrad e Barron, trabalharam lado a lado com o pai. Mas Conrad deixou a sua fortuna à Fundação Conrad N. Hilton, uma organização que, impulsionada em grande parte pela sua fé religiosa, fundou em 1944 para "aliviar o sofrimento humano em todo o mundo, independentemente de raça, religião ou país".
Barron teve que negociar com a Fundação para manter o controle da rede hoteleira. Mas, antes de morrer, Barron seguiu os passos do antecessor: deixou 97% de sua fortuna para a Fundação, e o restante foi distribuído entre seus oito filhos, 15 netos e quatro bisnetos, incluindo Nicky Hilton e Paris – de quem se envergonhava. Ele acreditava que a jovem tinha manchado o nome da família, segundo o livro “House of Hilton”.
Conrad trabalhou até o fim de seus dias. O New York Times observou que o chefe da família ficava sentado à sua mesa “seis dias por semana”, mesmo na velhice, e tinha um faro especial para reconhecer o potencial de um investimento. Após sua morte, Conrad deixou apenas US$ 500 mil para cada um de seus filhos sobreviventes, Barron e Eric, e US$ 100 mil para sua filha Francesca. A maior parte de sua fortuna acabou nos cofres de sua fundação.
"Existe uma lei natural, uma lei divina, que obriga você e eu a aliviar os sofredores, os aflitos e os desamparados. A caridade é uma virtude suprema e o grande canal através do qual a misericórdia de Deus chega à humanidade. É a virtude que une os homens e inspira os seus esforços mais nobres", escreveu Conrad Hilton no seu testamento.
Seu primogênito, Conrad, apareceu como seu herdeiro natural, mas morreu de ataque cardíaco aos 42 anos. Barron acabou chefiando a rede hoteleira, mas teve que lutar durante uma década para manter o controle dos negócios da família. Ao doar as suas ações à fundação, Conrad também deu a Barron o direito de comprá-las, mas a fundação levou essa opção a tribunal. O resultado foi uma disputa legal que se estendeu por uma década e terminou com um acordo entre Barron e a Fundação, que dividiu as ações do fundador. A solução salomônica permitiu a Barron permanecer no comando do império.
"Tenho certeza de que meu pai ficaria satisfeito com este acordo", disse o herdeiro, na época.
No final de 2007, Barron Hilton decidiu seguir os passos do pai. A Fundação anunciou que Barron, seu presidente, pretendia "contribuir com 97 por cento do seu património líquido total, estimado hoje em 2,3 bilhões de dólares, incluindo fundos criados, qualquer que seja o seu valor no momento da sua criação". Algumas das manchetes do noticiário já davam conta de quem era a nova figura da família. "Paris perde: fortuna do Hilton doada para instituições de caridade", informou a agência Reuters. "Hilton deixa sua fortuna para instituições de caridade (não para Paris)", foi o título escolhido pela rede de notícias CNN. Barron morreu em setembro de 2019.
O império de Paris
Naquela época, Paris Hilton era uma figura mundialmente famosa. Criada rodeada de privilégios entre Nova York e Los Angeles, ela começou muito cedo a atrair a atenção dos tabloides nova-iorquinos com a sua agitada vida social na Big Apple, assim como outras jovens contemporâneas como Ivanka Trump ou Nicole Richie.
A ascensão definitiva à fama veio no início dos anos 2000 com dois acontecimentos. O primeiro, indesejada: um vídeo pornô gravado por seu ex-namorado Rick Salomon chegou à internet com o título "A Night in Paris". Hilton, que começou a trabalhar como modelo muito jovem, acabou recebendo US$ 400 mil após uma batalha judicial subsequente. Ela doou a quantia para instituições de caridade, seguindo uma tradição familiar.
Naquela época, a Fox exibiu um novo reality show: "The Simple Life", com Paris Hilton e Nicole Richie. O programa mostrou as duas jovens celebridades, afetadas pela vida mundana, em meio à dura realidade de uma vida normal. Ambas moravam em uma fazenda no Arkansas, trabalhavam como empregadas domésticas em um resort ou como estagiárias em empresas. A série fez tanto sucesso que neste ano foi discutida a possibilidade de ambos retornarem à telinha com um remake.
Com o passar do tempo, Paris Hilton acabou se tornando um ícone global sem nenhum motivo aparente além de sua própria fama e estilo de vida. Sua carreira de modelo e sucesso na televisão levaram a mais aparições em mais programas de televisão, séries e filmes e eventualmente a transformaram em uma verdadeira máquina de produção de conteúdo, incluindo dois livros na lista de best-sellers do New York Times: "Confessions of an Heiress" e "Paris, The Memoir", biografia que ela lançou no ano passado com apenas 42 anos.
Além desse maquinário de geração de conteúdo, Paris Hilton criou um verdadeiro empório de produtos, desde linha própria de roupas, perfumes, cosméticos ou acessórios, até produtos tecnológicos, para animais de estimação, e taças de champanhe, todos disponíveis em seu site.
O resultado? Paris Hilton provavelmente acabará ultrapassando seu avô e bisavô em riqueza, mesmo sem herdar seu império. Há três anos, a revista Variety informou que as marcas de Paris Hilton já tinham ultrapassado os US$ 4 bilhões em vendas globais.
— Tendo o sobrenome Hilton, as pessoas pensam que tudo foi entregue a mim e que nunca tive que trabalhar um dia na minha vida — disse ela a Piers Morgan em entrevista em 2011. — Mas, na realidade, trabalhei muito duro. Fiz tudo sozinha, não levo nada da minha família.