Nelly Carvalho: Missa de Sétimo Dia rende homenagens à professora e escritora pernambucana; veja
Legado acadêmico e postura humana de Nelly Carvalho foram ressaltados por familiares e amigos que compareceram à cerimônia
Amigos, familiares, acadêmicos, ex-alunos e políticos compareceram à missa de sétimo dia da escritora e professora Nelly Carvalho. A cerimônia ocorreu nesta sexta-feira (14), na Igreja Matriz do Espinheiro, na Zona Norte do Recife.
A solenidade em homenagem a Nelly foi celebrada pelo Frei Aureliano. Ao final da missa, Roberto de Carvalho, filho mais velho da escritora e professora, representou a família com um depoimento sobre a mãe, iniciado por agradecimentos aos irmãos, aos amigos presentes e à cobertura da imprensa.
Roberto afirmou ter conhecido apenas "uma metade" da mãe em vida. A outra, que diz respeito à atuação dela como professora, só foi possível dimensionar a partir dos comentários de ex-alunos e colegas que conviveram com a acadêmica.
"Eu tinha uma dimensão dela como mãe, mas a professora vim descobrir agora, entre o sepultamento e a missa de sétimo dia. Ela tinha uma faceta mais descontraída e cheia de causos em sala de aula, que eu desconhecia. Em casa, ela era uma mãe muito participativa e incentivadora dos estudos", contou.
Roberto também citou parte da biografia da mãe. Relembrou que ela era filha de portugueses e que seu pai trabalhou com o ex-ministro Armando Monteiro Filho na Companheira Geral de Melhoramentos. "Ele possuía uma profunda admiração por Armando e quis o fio do destino que, depois, me tornasse amigo do filho dele, Eduardo de Queiroz Monteiro", comentou.
Para Teresa de Carvalho, também filha de Nelly, o legado da mãe no campo da linguística ultrapassou as fronteiras do Brasil. "Ela era uma pessoa muito generosa com as pessoas com quem convivia. Apesar do brilhantismo, nunca quis brilhar sozinha. Foi uma mulher à frente do seu tempo, que sempre fez o que tinha que fazer e nunca se subjugou a ninguém. Em resumo: uma força da natureza", apontou.
Sílvia de Carvalho, outra filha de Nelly, afirmou que a família tem se sentido acolhida neste momento de luto. “Temos um sentimento de pertencimento a todas as tribos pelas quais ela passou, deixando uma história muito bonita. Isso está sendo refletido agora, no carinho que a gente recebe”, agradeceu.
Segundo Ricardo de Carvalho, também filho da professora, Nelly criou os quatro filhos ensinando valores inestimáveis. “Ela nos deu um exemplo enorme de determinação e disciplina ao iniciar sua vida acadêmica relativamente tarde para a época. Ensinou que todos podemos iniciar algum plano de vida, independentemente da idade”, destacou.
Viúva do engenheiro civil e empresário Roberto Caldas Pereira de Carvalho, além dos quatro filhos, ela deixa seis netos - Bernardo, Raphael, Victor, Filipe, Luana e Alice.
A editora-chefe da Folha de Pernambuco, Leusa Santos, esteve presente à missa, representando o presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro. Ela, que também foi aluna de Nelly, falou da sua importância para os estudos na área de comunicação.
"Nelly produziu um vasto trabalho na academia e na linguística. Trata-se de um relevante repertório para entendermos as nuances da linguagem nas práticas sociais em suas diversas instituições", detalhou.
Domingos Azevedo, diretor do Grupo EQM, também compareceu à cerimônia e lamentou a perda da acadêmica. “Dona Nelly Carvalho é de uma importância muito grande para a cultura literária do Estado e do Brasil. Deixa um legado importante para a família, vai deixar muita saudade e vai fazer muita falta”, disse.
Entre os políticos presentes, estiveram o ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause e o ex-deputado federal Raul Henry. Gustavo falou sobre a convivência com Nelly, que chegou a ser professora de suas duas filhas. “Ela era mais do que uma professora. Fazia parte do patrimônio cultural de Pernambuco, uma jóia preciosa, que tinha uma profundidade de conhecimento enorme”, elogiou.
Doutora em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rita Kramer conviveu com Nelly no início da sua carreira acadêmica, durante a iniciação científica, e também no mestrado. De acordo com ela, a professora tinha a marca de ser, além de uma grande influência intelectual, uma boa amiga.
“Ela não tinha somente uma preocupação com a nossa formação. Também se importava com a nossa vida pessoal, nossos problemas. Então, a humanidade dela fica muito marcada na nossa memória”, revelou.
Nelly Carvalho morreu aos 88 anos, na madrugada do último sábado (8), devido a um choque séptico decorrente de broncopneumonia. Horas antes, ela havia dado entrada no Hospital Memorial Star, no bairro da Boa Vista, onde faleceu.
Biografia
Formada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1956, Nelly era mestre e doutora pela Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. Ela ganhou o título de professora emérita da UFPE em 2014, sendo a primeira mulher a obter a condecoração.
Mesmo após a aposentadoria da UFPE, Nelly seguiu na sala de aula, sendo professora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Ciências da Linguagem da Universidade Católica (Unicap). Também ministrou o curso de Publicidade Comparativa entre Brasil e França na Sorbonne Nouvelle, em Paris.
Com dez livros publicados, a escritora e professora era integrante da Academia Pernambucana de Letras desde 2015. Ela ocupava a cadeira de número 26, que antes foi do romancista Gilvan Lemos.
A especialidade de Nelly era a linguística, com ênfase na lexicologia, publicidade e propaganda e história da língua portuguesa. Esses eram os temas da maioria dos seus livros, como os títulos “Publicidade: A Linguagem da Sedução” e “Empréstimos Linguísticos na Língua Portuguesa”.