ORDEM

PL do aborto: OAB indica levar projeto de lei ao STF

Os advogados destacam o 'total rechaço e repúdio' ao PL e pedem seu arquivamento

Ordem emitiu um parecer sobre o projeto de lei nesta segunda-feira (17) - OAB/Divulgação

Por aclamação, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aprovou nesta segunda-feira, 17, parecer em que classifica como inconstitucional e ilegal o projeto de lei que equipara ao crime de homicídio o aborto após 22 semanas de gestação, inclusive em casos de estupro e outras hipóteses previstas em lei.

O texto acaba por propor à vítimas de violência sexual uma pena superior àquela aplicada aos estupradores. Os advogados destacam o 'total rechaço e repúdio' ao PL e pedem seu arquivamento, se opondo a "qualquer proposta legislativa que limite a norma penal vigente".

O parecer será encaminhado à presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Além disso, no documento, a entidade indica ainda que, caso o PL avance, o tema deve ser levado ao Supremo Tribunal Federal, para reparar "possíveis dados aos direitos de meninas e mulheres".

"As vítimas de estupros, meninas e mulheres, não precisam de clemência, mas de respeito do Estado! Reservemos o cárcere aos seus violadores!", frisa o documento.

Posicionamento
Segundo a OAB, a criminalização proposta configura "gravíssima violação aos direitos humanos de mulheres e meninas duramente conquistados ao longo da história atentando flagrantemente contra a valores do estado democrático de direito e violando preceitos da Constituição Federal e por Tratados e Convenções internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Estado brasileiro".

O documento aprovado nesta segunda foi elaborado por uma comissão formada por cinco conselheiras federais da OAB:

Em 41 páginas, o grupo traça um histórico da criminalização do aborto no Brasil, faz observações sobre saúde pública e aponta violação a princípios constitucionais.

Realidade social
A comissão destacou, por exemplo, que o aborto é uma realidade social, pontuando como projetos de leis de cunhos religiosos "inviabilizam a unidade de pensamento sobre a complexa questão", mesmo em um Estado laico.

Segundo os advogadas, limitar o tempo de gestação para o aborto legal não é uma questão do direito penal. Nessa seara, a intervenção estatal é "mais invasiva e danosa", alertam.

"O Projeto de Lei remonta-nos à idade média, e se assemelha ao banimento da mulher vítima de estupro", indica o parecer.

Segundo as conselheiras da OAB, obrigar vítimas a manter uma gravidez decorrente de estupro ou que represente grave risco à vida da gestante (outra hipótese de aborto legal) implica em "tratamento desumano, degradante, equivalente a tortura".

"A obrigação da manutenção da gestação na forma que propõe o PL, impõe às meninas e mulheres verdadeiro castigo por atos que elas não cometeram, pelo contrário, foram vítimas em razão de sua vulnerabilidade, porém, na contramão do que se prega no estado de bem estar social, o que o legislador pretende é aplicar-lhes 'tratamento de criminosa' estigmatizando-as e conferindo a elas o etiquetamento social de assassinas", frisa o parecer.