Senado debate aborto em sessão com encenações e vídeos de fetos
Sessão foi convocada pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE) e contou com a presença majoritária de representantes contra o aborto legal
A sessão para debater a assistolia fetal, o aborto que já é previsto em lei, realizada nesta segunda-feira no Senado Federal ficou marcada pela defesa do projeto que equipara o aborto após a 22ª semana ao crime de homicídio e pela predominância de especialistas contra o procedimento.
A discussão no Plenário foi realizada em atendimento a um requerimento do senador Eduardo Girão (Novo-CE), que presidiu a sessão.
Apenas parlamentares de oposição marcaram presença. Os senadores Marcos Rogério (PL-RO), Damares Alves (Republicanos-DF), e os deputados Bia Kicis (PL-DF), Jorge Seif (PL-SC), Chris Tonietto (PL-RJ) e General Girão (PL-RN).
Antes do início do debate, uma artista realizou uma performance interpretando um feto sendo abortado em frente à Tribuna do Senado.
— Não! Não acredito, essa injeção, essa agulha não! Quero continuar vivo! Não façam isso!”, gritou a artista em Plenário — gritava a contadora de histórias Nyedja Gennari.
Girão também convocou um minuto de silêncio “em respeito às mulheres, às vítimas e aos bebês indefesos do aborto”. e cumprimentou uma turma de uma escola pública de Brasília do quinto ano do ensino fundamental que estava presente na sessão.
— É muito simbólico a presença de crianças aqui no Senado Federal — disse o senador durante a sessão. Outras turmas de ensino fundamental também acompanharam o debate sobre aborto e foram igualmente cumprimentadas pelo parlamentar.
Para iniciar o debate, o deputado federal Zacharias Calil (União-GO) realizou a simulação do procedimento de assistolia fetal em um manequim de treinamento que simulava o corpo de uma mulher na tribuna do Senado.
O parlamentar foi seguido por outros dezessete representantes convidados para o debate. Metade dos palestrantes convidados eram homens e todos discursaram contra o aborto legal.
Responsável pela sessão, o senador Girão afirmou que especialistas com opiniões distintas foram convidados, mas não compareceram.
Convidado, o presidente do CFM, José Hiran da Silva, foi o segundo a discursar no Plenário do Senado se colocou pessoalmente contra o aborto legal e classificou o procedimento como “cruel” e “desumano”
— Aqui abordamos o uso da assistolia fetal, no meu entendimento, um método cruel e desumano para cessar a vida de um ser humano formado com 22 semanas.
O conselheiro do CFM, Raphael Câmara, relator da resolução do Conselho suspendida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que dificultava o aborto legal, pediu para que fosse exibido um vídeo de ultrassom de um feto durante o procedimento de assistolia fetal.
O registro só foi exibido no Plenário e não foi veiculado na transmissão da TV Senado, que alegou violação de direitos da instituição.
— Não pode mostrar, mas pode matar, as máscaras estão caindo — protestou o senador Girão, que exibia bonecos que simulavam fetos durante a questão — Quando mostro esses bebezinhos isso vai gerando consciência do que estamos falando — explicou.
A deputada federal Bia Kicis também discursou na tribuna, e exibiu um vídeo de um suposto feto após um aborto. O vídeo também não foi exibido na transmissão oficial do Senado.
PL do Aborto
A discussão acontece em meio a tramitação do projeto de lei que equipara o aborto após a 22ª semana ao crime de homicídio na Câmara dos Deputados.
Após a realização de protestos nas ruas e fortes reações nas redes sociais, o projeto deve ter sua votação postergada na Casa. O autor do texto, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), da bancada evangélica, admite que a análise no plenário pode ser deixada para o fim do ano, após as eleições municipais.
Não estou com pressa nenhuma. Votei a urgência e agora temos o ano todo para votar isso. O Lira tem compromisso conosco e ele pode cumprir até o último dia do mandato dele — disse o parlamentar, que já presidiu a Frente Parlamentar Evangélica, a bancada da Bíblia.
Membro da oposição ao governo, a deputada Bia Kicis, no entanto, se posicionou nesta segunda-feira contra a postergação da votação do projeto na Câmara.
— Nós não topamos, sabe porquê? Porque enquanto a gente discute essas questões, bebês estão sendo mortos todos os dias de forma cruel.