Pacheco se irrita com debate sobre aborto com defensores de projeto da Câmara
A aliados, presidente do Senado mostrou descontentamento por audiência ter ignorado especialistas
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), demonstrou irritação com o debate realizado na manhã desta segunda-feira no plenário da Casa, a pedido do senador Eduardo Girão (Novo-CE).
Pacheco não gostou de o debate ter ignorado especialistas contrários ao projeto antiaborto por estupro na sessão e o uso de dramatização para discutir o tema.
Além da falta de pluralidade, irritou particularmente o senador o uso de dramatização para discutir o tema, que, para ele, deve levar em conta todas as correntes, critérios técnicos, científicos, a própria legislação vigente e, sobretudo, as mulheres senadoras.
A sessão para debater a assistolia fetal, o aborto que já é previsto em lei, realizada nesta segunda-feira no Senado Federal ficou marcada pela defesa do projeto que equipara o aborto após a 22ª semana ao crime de homicídio e pela predominância de especialistas contra o procedimento.
Apenas parlamentares de oposição marcaram presença. Os senadores Marcos Rogério (PL-RO), Damares Alves (Republicanos-DF), e os deputados Bia Kicis (PL-DF), Jorge Seif (PL-SC), Chris Tonietto (PL-RJ) e General Girão (PL-RN).
Antes do início do debate, uma artista realizou uma performance interpretando um feto sendo abortado em frente à tribuna do Senado.
— Não! Não acredito, essa injeção, essa agulha não! Quero continuar vivo! Não façam isso!” — gritou a artista em Plenário, a contadora de histórias Nyedja Gennari.
Girão também convocou um minuto de silêncio “em respeito às mulheres, às vítimas e aos bebês indefesos do aborto” e cumprimentou uma turma de uma escola pública de Brasília do quinto ano do ensino fundamental que estava presente.
Para iniciar o debate, o deputado federal Zacharias Calil (União-GO) realizou a simulação do procedimento de assistolia fetal em um manequim de treinamento que simulava o corpo de uma mulher na tribuna do Senado.
O parlamentar foi seguido por outros 17 representantes convidados para o debate. Metade dos palestrantes convidados eram homens e todos discursaram contra o aborto legal. Responsável pela sessão, o senador Girão afirmou que especialistas com opiniões distintas foram convidados, mas não compareceram.
Na semana passada, Pacheco alfinetou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e disse que a discussão de um tema como um aborto não poderia ter sido feita de forma apressada. Ele indicou que o caminho será outro no Senado.
— Eu devo dizer que, com matéria dessa natureza, jamais, por exemplo, iria direto ao plenário do Senado Federal. Ela deve ser submetida às comissões próprias. É muito importante ouvir, inclusive, as mulheres do Senado, que são legítimas representantes das mulheres brasileiras, para saber qual é a posição delas em relação a isso — disse Pacheco.