FORÇA

Rússia inicia exercício naval no Pacífico enquanto Putin visita a Coreia do Norte

Medida ocorre um dia após a frota de navios de guerra russos deixar o porto de Havana

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em conversa com a mídia russa - Mikhail Metzel / POOL / AFP

A Rússia iniciou, nesta terça-feira, uma série de exercícios navais no Pacífico que durarão dez dias. Ao todo, 40 navios, lanchas e barcos, além de 20 aviões e helicópteros, passarão pelas águas do Mar do Japão e do Mar de Okhotsk, no Extremo Oriente da Rússia.

A medida coincide com a visita do presidente russo, Vladimir Putin, à Coreia do Norte – e ocorre apenas um dia após a frota de navios de guerra russos deixar o porto de Havana, ação interpretada por analistas como uma demonstração de força de Moscou em meio às tensões com os EUA e outras nações ocidentais que apoiam Kiev na guerra na Ucrânia.

“Em várias etapas [dos exercícios], os marinheiros treinarão combates antissubmarinos e ataques com mísseis contra frotas de navios de um inimigo convencional”. Eles irão, ainda, simular respostas a possíveis “ ataques aéreos e navais de drones”, de acordo com comunicado do Ministério da Defesa, que incluiu imagens de navios e um submarino no porto de Vladivostok, onde é a base da frota russa no Pacífico.

Relações Internacionais;
Também nesta terça, Putin agradeceu o “firme apoio” da Coreia do Norte à sua “operação militar especial” na Ucrânia. A fala ocorreu horas antes do russo chegar a Pyongyang para uma visita excepcional, durante a qual está prevista a assinatura de um acordo de parceria estratégica entre os dois países, cuja aliança é percebida como uma ameaça pelo Ocidente.

Embora ambos sejam aliados desde o final da Guerra na Coreia (1950-1953), seus laços se estreitaram quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022. Em comum, os dois são tratados como “párias” e recebem pressão do Ocidente e aliados, além das sanções internacionais.

“A Rússia apoiou [a Coreia do Norte] e seu povo heroico em sua luta para defender seu direito de escolher por si mesmos o caminho da independência, originalidade e desenvolvimento no enfrentamento com o inimigo astuto, perigoso e agressivo”, escreveu Putin numa coluna publicada no jornal oficial norte-coreano Rodong Simnun e na agência de notícias KCNA.

“[A Rússia] continuará a apoiá-los constantemente no futuro”, continuou o presidente, que também afirmou que Pyongyang “apoia firmemente” a ofensiva russa na Ucrânia – e agradeceu por isso.

Troca de acusações
As potências ocidentais acusam há meses os norte-coreanos de fornecer munições à Rússia para a guerra na Ucrânia. Em troca, Pyongyang recebe assistência tecnológica, diplomática e alimentar. O assessor diplomático de Putin, Yuri Ushakov, apresentou a viagem como importante para ambos os países, que são atingidos por sanções ocidentais, e mencionou a “possível” assinatura de “um acordo de cooperação estratégica global”.

O líder russo estará acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e pelo ministro da Defesa, Andrei Belousov.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a visita de Putin mostra o quanto a Rússia precisa do apoio de líderes autoritários para levar a cabo sua ofensiva no território ucraniano. Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o que preocupa é “o aprofundamento da relação entre esses dois países”.

Parceria estratégica
Putin, que é alvo de um mandado de prisão internacional do Tribunal Penal Internacional, reduziu suas viagens ao exterior, mas realizou algumas para visitar aliados importantes, como a China. Nesta terça-feira, Pequim instou a Otan a “deixar de culpar” a China pela guerra na Ucrânia – fala que ocorreu após Stoltenberg acusar o gigante asiático de agravar o conflito com seu apoio a Moscou.

A aliança entre Rússia e Coreia do Norte fez com que o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, apelasse à comunidade internacional a contrapor a “amizade” entre Putin e Kim Jong-un aumentando os envios de armas a Kiev. À AFP, Kuleba disse que “a melhor maneira de responder é continuar fortalecendo a coalizão diplomática para uma paz justa e duradoura na Ucrânia”.

A visita de Putin ocorre nove meses depois de ter recebido Kim no Extremo Oriente russo, onde ambos os líderes se cobriram de elogios, mas não fecharam – pelo menos oficialmente – nenhum acordo. Em março, a Rússia utilizou seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU para encerrar o sistema de monitoramento das sanções impostas à Coreia do Norte, que foram instauradas principalmente devido ao programa nuclear de Pyongyang.

Algumas horas antes da chegada de Putin a Pyongyang, dezenas de soldados norte-coreanos cruzaram brevemente a fronteira fortificada com a Coreia do Sul, mas recuaram rapidamente diante de tiros de advertência, um ato que os comandos militares de Seul estimam ter sido acidental. Este é o segundo incidente do tipo em menos de duas semanas.

A Coreia do Sul disse que “acompanha de perto os preparativos” da visita de Putin. Seul forneceu uma importante ajuda militar à Ucrânia, país que o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol visitou no mês passado, e participa das sanções ocidentais impostas contra Moscou.