Cenário Econômico

Clima de tensão às vésperas da reunião do Copom

Crítica do presidente Lula a Campos Neto gerou turbulência no mercado, elevou o dólar e provocou incertezas sobre o futuro da inflação

Situação econômica do Brasil sofre com alta do dólar, criticas do presidente Lula a gestão do Banco Central podem colaborar com o pessimismo do cenário. - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir o patamar da taxa básica de juros, declarações do presidente Lula ao criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, provocou turbulência no mercado, elevou o dólar e gerou incertezas e alertas sobre o futuro da inflação. O presidente Lula disse que Campos Neto tem 'lado político' e 'trabalha para prejudicar' o Brasil.

Ontem (18), o dólar fechou em R$ 5,43. A alta da moeda afeta diretamente o preço dos produtos no País. Isso porque grande parte dos itens que compõem a base alimentar brasileira são importados a custo da moeda norte-americana.

Mesmo com o movimento de crescimento, o economista Sandro Prado, destaca que ainda não podemos dizer que a inflação está alta de acordo com a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

“Ainda não podemos dizer que a inflação está em alta. Está num patamar abaixo dos 4%, considerado a meta de inflação que é 1,5 acima ou 1,5 abaixo de 3% que a meta. Então, 4% está dentro da meta entre 3% e 4,5%, mas a gente está percebendo um aumento forte no preço de alguns produtos alimentícios.” disse

Safra

Junto à problemática da alta do dólar, o economista lembra das questões acerca da safra agrícola, que esteve em queda com os últimos desastres no Rio Grande do Sul e mudanças climáticas que afetaram outras cidades. Com a chuva, seca e extremos de temperatura, a produção nacional de alimentos foi duramente afetada e por consequência tiveram altas no preço, como foi o caso da batata, cenoura, trigo e outros alimentos essenciais. “Isso tem feito com que a população sinta esse efeito muito mais do que no ano passado, quando a inflação também estava no mesmo patamar, mas tivemos uma redução no preço dos alimentos ao invés do aumento”, explicou o economista.

Selic

A taxa Selic, fator impactante na alta da inflação e que está na marca de 10,50% ao ano, está sendo discutida ontem (18) e hoje, na reunião do Copom. A expectativa é de que a taxa seja mantida. Para Prado, a reunião deverá ter um viés politizado causado pelas últimas falas do presidente Lula contra Campos Neto. “A expectativa de mercado dos principais agentes econômicos é que a taxa de juros não tenha redução embora a gente possa ter a surpresa de uma redução ainda de 0,25. O mais provável é que a gente não tenha essa redução, embora com algumas falas do presidente Lula isso ficou politizado, ou seja, qualquer decisão que o corpo tome ela vai ser teoricamente técnica, mas ela vai estar permeada de questões políticas”, disse o especialista.

Consequências 

Sandro Prado também explica que as implicações da taxa Selic para a população têm duas facetas. Para essas pessoas que investem a expectativa é positiva, principalmente na renda fixa. Já para empréstimos e financiamentos os juros ficam elevados e o número de endividados tende a aumentar, deixando o nível de inadimplência elevado. 

“A gente tem sentindo, no Brasil, uma dificuldade das pessoas de pagarem suas contas dos empréstimos e dos financiamentos devido a uma taxa elevada. O financiamento para produção também acaba ficando alto, fazendo com que haja uma fuga de dinheiro de capital, que seria investido na produção. Esse capital acaba indo para a especulação financeira, então há uma redução das expectativas de crescimento dessa política monetária.” finalizou Prado.

Lula e Campos Neto

As falas citadas pelo economista são as recentes críticas do presidente Lula contra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Lula atribuiu o comportamento do gestor em relação a atual taxa básica de juros como “a única coisa desajustada que existe no País”. 

“A inflação está totalmente controlada. Fica se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer. Vamos trabalhar em cima do real", disparou o presidente.

Para o economista, quando o presidente Lula diz que a taxa está muito alta, ele acerta na colocação, “realmente há espaço para redução. Ao mesmo tempo, o presidente do Banco Central diz que tem que ter cautela. Porque ele é o guardador de uma inflação baixa, ele tem de certa forma uma certa razão em reduções mais leves. Mais brandas, mais espaçadas, mas ainda existe a possibilidade dessa redução porque essa política monetária hoje é uma política restritiva.”