Caso Anic: defesa de filhos presos diz à Justiça que irmãos foram induzidos por pai a participar
Documento do Caso Anic alega que Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga não cometeram crimes e pede absolvição sumária e revogação das prisões preventivas
A fase judicial de apresentação de resposta a denúncia do Caso Anic, feita pelo Mistério Público do Rio de Janeiro, que acusou o técnico de informática Lourival Correa Netto Fadiga e os filhos Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga de envolvimento no desparecimento da advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, provocou um racha no clã familiar.
Atrás das grades há mais de um mês, os irmãos apresentaram defesa na 2ª Vara Criminal de Petrópolis, nesta quarta-feira, alegando terem sido induzidos pelo pai a participar, sem saber, do sumiço da advogada. Anic foi vista pela última vez no dia 29 de fevereiro de 2024.
A defesa dos irmãos alegou, no documento entregue à Justiça, que Maria Luíza e Henrique não praticaram crimes. Além disso, pediu ainda absolvição sumária da dupla ou a revogação das prisões preventivas de ambos, para que seja possível que eles respondam pelas acusações em liberdade.
Já um relatório de investigação da 105ªDP (Petrópolis) afirma, entre outras coisas, que Maria Luisa tinha ciência do crime, e que inclusive, usou o próprio nome para emplacar uma picape comprada pelo pai por R$ 500 mil, pagos em espécie. O dinheiro era parte do resgate de R$ 4,6 milhões, entregue pela família de Anic para que vítima fosse liberada de um suposto cativeiro.
Já Henrique Vieira Fadiga, segundo a polícia, participou da compra de US$ 150 mil dólares, feita por Lourival, com um doleiro, no início de março. O filho do principal suspeito do sumiço da advogada combinou a entrega do dinheiro, e teria recebido pessoalmente parte das cédulas, de acordo com o relatório de investigação da delegacia. O valor teria sido comprado pelo pai de Henrique com parte da quantia de R$ 4,6 milhões exigidos para libertar Anic.
"Os dois não sabiam de nada. Eles, assim, na verdade, foram induzidos pelo pai. A gente junta ( na defesa apresentada) também a conversa (de Maria Luiza) com o pai, com relação à compra do veículo. O pai mandando mensagem para ela, falando filha, assina esse documento aí para mim. Aí ela diz, o que é isso? Ele respondeu dizendo que era para a compra de um carro. Ela vai, assina e manda para ele sem saber o que estava assinando. Era o pai dela. Ela não desconfiou em nenhum momento" disse o advogado Vinicius, que defende irmãos.
"Já o Henrique, por sua vez, recebeu o dinheiro. Ele estava na casa do pai. Bateram na porta e falaram, olha seu pai pediu para deixar o dinheiro aqui. Ele não sabia que o dinheiro era produto de crime. Seu pai, aliás já transacionava compra de dólares há muito tempo" completa.
Segundo o advogado, ele foi contratado pela mãe dos irmãos, que não vivia mais com Lourival. Santos também revelou que a defesa nada tem a ver com os interesses do técnico de informática, defendido por outra pessoa. O Globo procurou a defesa de Lourival, que ainda não se posicionou sobre o caso.
Além de Lourival e os dois filhos, Rebeca Azevedo dos Santos Carvalho, ex-namorada do técnico de Lourival, também está presa. Ela é suspeita de ajudar o ex-namorado, de alguma forma, na trama que acabou com o desaparecimento da advogada.
De sumiço a pagamento de resgate: ilustrações mostram passo a passo do desaparecimento de Anic Herdy
Anic de Almeida Peixoto Herdy foi vista pela última vez, no dia 29 de fevereiro, ao sair a pé de um shopping, em Petrópolis, na Região Serrana. Mais de sete horas após o desparecimento, Benjamim de Souza Herdy, com quem ela é casada, recebeu uma mensagem em seu telefone. No texto, uma pessoa dizia estar com a estudante de Psicologia e exigia resgate de R$ 4.6 milhões para que ela fosse libertada.
Após sucessivos contatos, a família concluiu o pagamento da quantia exigida no dia 11 de março. Dias antes, outra parte do dinheiro já havia sido depositada em 40 contas de doleiros e de empresas indicadas por Lourival. Como a vítima não apareceu, a família da estudante registrou o caso na 105ªDP no dia 14 de março de 2024. Seis dias depois, o técnico de informática foi preso, em Teresópolis.
O principal suspeito do desaparecimento conhecia Anic e o marido há três anos. Após mentir ao se apresentar ao casal como sendo policial federal, o suspeito chegou a ser responsável pela segurança de marido e mulher, acompanhado os dois, inclusive, em viagens por vários estados do país.