Quênia

Manifestantes invadem Parlamento e incendeiam prédios no Quênia; internet é interrompida

Dezenas estão feridas e desapareceram nas últimas 24 horas, denunciam ONGs

Manifestantes invadindo o Parlamento no Quênia - Luis Tato/AFP

Pelo menos cinco pessoas morreram e 31 ficaram feridas nesta terça-feira durante protestos contra um projeto de aumento de impostos no Quênia.

Manifestantes invadiram e incendiaram os prédios onde ficam o Parlamento e a Prefeitura de Nairóbi, e também atearam fogo em veículos próximos à Suprema Corte do país, levando a confrontos com as forças de segurança na capital.

Após as invações, o site de monitoramento de internet NetBlocks relatou que houve uma “grande interrupção” na conectividade no Quênia.

A organização anunciou no X (antigo Twitter), que “o incidente ocorre em meio à repressão policial” contra os protestantes contra um novo projeto de lei financeira que levantam a hashtag #RejectFinanceBill2024 e “um dia depois de as autoridades afirmarem que não haveria interrupção” da conexão.

Durante as invasções, segundo a imprensa queniana, deputados que estavam no local fugiram por um túnel subterrâneo.

"Apesar da garantia do governo de que o direito a protesto seria protegido e facilitado, os protestos de hoje se transformaram em violência. (...) Pelo menos cinco pessoas morreram devido a disparos enquanto socorriam os feridos", afirmaram várias ONGs de direitos humanos em comunicado, incluindo a Anistia Internacional. Segundo a declaração, 31 pessoas ficaram feridas, 13 delas por balas de fogo.

A tensão explodiu no centro financeiro da capital, onde ocorria a terceira manifestação em oito dias do movimento “Occupy Parliament” (Ocupar o Parlamento), que se opõe a um projeto de Orçamento para 2024-2025 que prevê a instituição de novos impostos, incluindo um IVA de 16% sobre o pão e uma taxa anual de 2,5% para veículos particulares.

Há uma semana, o governo anunciou a retirada da maioria das medidas, mas o movimento exige a eliminação total do texto.

Ao meio-dia do horário local, os manifestantes romperam o cordão de isolamento policial e avançaram em uma área que abriga vários prédios governamentais, incluindo o Parlamento e a prefeitura de Nairóbi, que foram invadidos, e a Suprema Corte.

Outras manifestações ocorreram em diferentes cidades do país, de acordo com a mídia local. As ONGs não especificaram os locais onde os mortos e feridos foram contabilizados.

Antes dos distúrbios desta terça, outras duas pessoas haviam morrido em Nairobi durante a onda de protestos e dezenas ficaram feridas.

Organizações de direitos humanos também informaram que 21 pessoas foram sequestradas ou desapareceram nas últimas 24 horas, algumas das quais foram já libertadas. Segundo o comunicado, ao 52 manifestantes foram presos.

Sensação de cansaço
Inicialmente liderado pela "Geração Z" (pessoas nascidas após 1997), o movimento se transformou em um protesto mais amplo contra a política do presidente William Ruto, que se mostrou disposto a dialogar.

— Ruto nunca cumpriu suas promessas [...] Estamos cansados. Que ele vá embora — declarou Stephanie Wangari, desempregada de 24 anos, em entrevista à AFP durante o protesto.

A ativista de origem queniana Auma Obama, irmã do ex-presidente dos EUA Barack Obama, estava ao lado dos manifestantes no protesto.

No momento em que concedia uma entrevista a uma afiliada da CNN americana em Nairóbi, ela foi atingida por gás lacrimogêneo.

— Não consigo nem ver mais, estamos sendo atacados com gás lacrimogêneo — disse Obama em imagens capturadas pela TV. — Veja o que está acontecendo. Os jovens quenianos estão se manifestando por seus direitos. Eles estão se manifestando com bandeiras e faixas.

O Quênia, um país do leste da África com cerca de 52 milhões de habitantes, é um motor econômico na região.

No entanto, a nação registrou uma inflação de 5,1% ao ano em maio, com aumentos nos preços de alimentos e combustíveis de 6,2% e 7,8%, respectivamente, segundo o Banco Central.