Golpe

OEA repudia tentativa de golpe na Bolívia e aborda crises na Nicarágua e Haiti

Militares tentaram na quarta-feira derrubar uma porta do palácio presidencial de La Paz; presidente boliviano, Luis Arce, qualificou como "golpe de Estado"

Militares tomaram praça em frente à sede da Presidência em La Paz, Bolívia - Aizar Raldes/AFP

A OEA aprovou nesta quinta-feira (27) por unanimidade, durante a assembleia geral do organismo em Assunção, uma resolução em repúdio à tentativa de golpe de Estado registrada na véspera na Bolívia, ao mesmo tempo em que colocou o foco nas crises da Nicarágua, Haiti e na insegurança na região.

A resolução assegura que a Organização dos Estados Americanos (OEA) resolveu "condenar energicamente o desdobramento ilegal de unidades do Exército do Estado Plurinacional da Bolívia" e expressa sua solidariedade com o povo boliviano.

"Estamos muito orgulhosos de ser copatrocinadores dessa resolução e afirmamos que nosso compromisso é com a democracia", disse a jornalistas em Assunção Richard Verma, adjunto do chefe da diplomacia estadunidense, Antony Blinken.

Militares tentaram na quarta-feira derrubar uma porta do palácio presidencial de La Paz, em uma manobra que o presidente boliviano, Luis Arce, qualificou como "golpe de Estado".

Seu governo anunciou nesta quinta-feira a detenção de 17 pessoas suspeitas de participar da tentativa de golpe, entre militares ativos e da reserva e vários civis.

O fato causou repúdio generalizado de todos os representantes dos Estados membros enquanto os eventos ocorriam, incluindo o presidente anfitrião, o paraguaio Santiago Peña, e o secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

O embaixador da Bolívia junto ao organismo, Héctor Enrique Arce, agradeceu a "rápida reação" dos países membros e a considerou "um dos elementos que favoreceu e foi determinante para o fracasso de uma tentativa desestabilizadora", no âmbito desta 54ª assembleia geral, que se realiza na sede da Conmebol em Assunção e terminará na sexta-feira.

Nicarágua, Haiti e a insegurança
O órgão hemisférico aprovou, além disso, uma resolução para o "acompanhamento da situação na Nicarágua", que deixou de ser Estado membro em novembro do ano passado a pedido de seu presidente, Daniel Ortega.

As relações do país centro-americano com a comunidade internacional se tensionaram desde a repressão aos protestos de 2018 contra o mandatário nicaraguense, no poder desde 2007 e reeleito sucessivamente.

Também foi aceita uma resolução orientada a mitigar a crise humanitária e política que o Haiti sofre, que recentemente recebeu uma missão de assistência policial do Quênia para combater gangues que têm afundado o país caribenho em uma grave crise.

O documento propõe continuar os esforços para restabelecer a segurança, a assistência humanitária, o desenvolvimento socioeconômico "e a prestação de assistência para a proteção dos direitos humanos e da democracia no Haiti".

A delegada haitiana, a chanceler Dominique Dupuy, assegurou que seu governo, recém-eleito no final de maio em meio a uma longa instabilidade política, está decidido a "tomar todas as medidas necessárias para retornar aos acordos de transição política".

Além disso, afirmou, velará pelo "retorno ao Estado de Direito, justiça social e eleições para renovar o quadro político".

Finalmente, a assembleia colocou a lupa no combate ao crime e à insegurança.

Entre outros, a ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, denunciou a "devastadora presença na região [do crime organizado] e seu alarmante caráter transnacional".

Localizado entre Colômbia e Peru - os maiores produtores mundiais de cocaína -, o Equador deixou há anos de ser uma ilha de paz e se tornou um centro logístico para o envio de drogas, principalmente cocaína, para a Europa e os Estados Unidos.

"Que democracia sobreviverá se os poderes do Estado forem infectados por esse câncer organizado transnacional?", questionou Sommerfeld.