Morta ou escondida em Dubai? Na mira de 3 países, "rainha das cripto" teve sumiço misterioso
Ruja Ignatova é acusada de aplicar golpe de US$ 4,5 bilhões em investidores; policiais e jornalistas apuram se ela foi acobertada ou assassinada por chefe da máfia
Ruja Ignatova é a fugitiva mais procurada pelas autoridades americanas desde que investigações apontaram um golpe de US$ 4,5 bilhões (R$ 24,7 bilhões) orquestrado por ela. Nascida búlgara, a cidadã alemã é acusada de aplicar um golpe contra investidores, usando um criptoativo falso, OneCoin.
Nesta quarta-feira, os Estados Unidos aumentaram para US$ 5 milhões (equivalente a R$ 27,5 milhões, na cotação atual) a recompensa por informações que levem ao paradeiro da suspeita. Além de Washington, ao menos outros dois países investigam ou já dão como certas acusações formais contra a "rainha das criptomoedas".
Segundo a BBC, a Alemanha já denunciou Ruja Ignatova e uma autoridade da Bulgária — em cuja capital, Sófia, operava a OneCoin — confirmou nesta quarta que ela seria acusada à revelia.
Depois de ser criada na Alemanha, Ruja se formou na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e enveredou pelo mundo das finanças. Lançou a OneCoin em 2014 e arregimentou investidores com a promessa de retornos maiores que os da criptomoeda Bitcoin. No entanto, o criptoativo anunciado por ela não tinha registro digital nem qualquer lastro.
Sob circunstâncias misteriosas, Ruja Ignatova "desapareceu" em 2017, quando foi expedido o mandado de prisão pelos EUA. Ela foi vista pela última vez quando pegava um voo de Sófia com destino a Atenas. O paradeiro da mulher, que passou a ser chamada de "rainha das criptomoedas" pelas autoridades americanas, é desconhecido desde então.
Hoje, Ruja é considerada um dos dez principais foragidos (a única do gênero feminino) na mira de Washington desde que foi apontada como chefe do esquema.
A rede britânica divulgou um podcast e documentário que revelou as ligações da "rainha das criptomoedas" com o submundo búlgaro e ao suposto chefe da máfia envolvido no seu desaparecimento. Não se sabe sequer se Ruja está viva.
Vida de luxo em Dubai? Assassinato?
Richard Reinhardt, responsável pela apuração sobre a OneCoin na Receita Federal americana, junto ao FBI, afirmou à BBC que o traficante búlgaro Hristoforos Nikos Amanatidis ("Taki") — chefe da máfia local — havia sido encarregado pelos criminosos de fazer a segurança da golpista. Documentos da Europol citados pela rede britânica apontam que a polícia búlgara já havia descoberto a conexão entre Ruja e Taki antes de a mulher desaparecer. A "rainha das criptomoedas" pagaria cerca de 100 mil euros por mês em troca da proteção.
Há suspeitas de que Ruja esteja escondida em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Foi lá que ela comprou uma cobertura de luxo e onde contas bancárias em seu nome receberam aportes provenientes da OneCoin, diz a BBC.
Outros elementos investigativos, porém, indicam que Taki pode ter assassinado Ruja. Em 2022, o site investigativo bird.bg teve acesso a um relatório policial encontrado na casa de um policial búlgaro morto. O documento dizia que um informante detalhou ter ouvido do cunhado do chefe da máfia que Ruja foi morta por ordens de Taki em 2018. Seu corpo teria sido lançado no Mar Jônico.
Dimitar Stoyanov disse que agentes búlgaros confirmaram a autenticidade do relatório. Cúmplices de Taki afirmaram ao jornalista que a teoria era factível, já que Ruja teria se tornado uma "ameaça" para o chefe da máfia e seus negócios. Após a publicação dessas informações, o jornalista e seus colegas precisaram deixar a Bulgária por receberem ameaças de morte.
Em 2022, os EUA adicionaram Ruja à lista dos 10 mais procurados. Na ocasião, a recompensa foi estabelecida em US$ 100 mil e, mais tarde, em US$ 250 mil. Nesta quarta-feira, o montante saltou vinte vezes, conforme relatou a BBC. A recompensa está no âmbito do Programa de Recompensa contra o Crime Organizado Transnacional do Departamento de Estado dos EUA.
"Estamos oferecendo uma recompensa de até US$ 5 milhões por informações que levem à prisão e/ou condenação da cidadã alemã Ruja Ignatova, conhecida como ‘Cryptoqueen’, por seu papel em um dos maiores esquemas de fraude globais da História", disse o porta-voz do departamento americano, Matthew Miller.