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França entra na reta final das legislativas com extrema direita forte

Às vésperas do primeiro turno, uma grande pesquisa da Ipsos, publicada na quinta-feira, projeta uma vitória para o RN e seus aliados com 36% dos votos

Michele Martinez (C), candidata do partido francês de extrema direita Rassemblement National (RN) - Matthieu Rondel / AFP

Os partidos políticos lutam nesta sexta-feira (28) para atrair eleitores no último dia de campanha antes do primeiro turno das incertas eleições legislativas na França, onde a extrema direita, líder nas pesquisas, se aproxima do poder.

"Quero evitar que os extremos, especialmente a extrema direita, ganhem estas eleições", disse nesta sexta-feira o primeiro-ministro de centro-direita, Gabriel Attal, instando os franceses a votarem na aliança do presidente Emmanuel Macron.

O principal adversário é o jovem líder de extrema direita Jordan Bardella, 28 anos, que o partido Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen promove como candidato a primeiro-ministro, caso obtenha maioria absoluta na Assembleia Nacional (câmara baixa).

Às vésperas do primeiro turno, em 30 de junho, uma grande pesquisa da Ipsos, publicada na quinta-feira, projeta uma vitória para o RN e seus aliados com 36% dos votos, seguido pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP, 29% ) e o partido no poder (19,5%).

O resultado após o segundo turno, em 7 de julho, é, no entanto, incerto devido ao próprio sistema eleitoral: os 577 deputados são eleitos em círculos eleitorais não nominais, com sistema majoritário em dois turnos.

"Não podemos descartar, longe disso, uma maioria absoluta" para o RN na noite de 7 de julho, disse à AFP Brice Teinturier, vice-presidente do instituto de pesquisas Ipsos, pedindo cautela em relação às projeções de assentos.

A chegada ao poder da extrema direita, pela primeira vez desde a libertação da França da ocupação da Alemanha nazista em 1945, acrescentaria um novo país à União Europeia (UE) governado por esta tendência, como a Itália.

Macron, cujo mandato termina em 2027, antecipou as votações em 9 de junho após a vitória de Bardella nas eleições europeias e agora corre o risco de compartilhar o poder com um governo de tendência política diferente, a menos de um mês do início Jogos Olímpicos em Paris.

Neste contexto, a Bolsa de Paris registrou em junho perdas de 6,42%, encerrando seu pior mês em dois anos; e o rendimento do título a dez anos da França teve sua maior disparidade com relação aos títulos da Alemanha desde 2012.

Matemática eleitoral 
Os adversários do RN tentaram na reta final alertar para o risco da chegada ao poder da extrema direita, que tem se esforçado na última década para moderar a imagem herdada do seu fundador Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas.

Attal os acusou de apoiarem "mais de cem candidatos" com declarações "racistas, antissemitas e homofóbicas", e criticou, assim como a esquerda, a proposta de limitar o acesso a cargos estratégicos aos franceses com dupla nacionalidade.

Outra das polêmicas foram as declarações de Marine Le Pen, que sugeriu que, caso chegassem ao poder, Macron teria dificuldade, por exemplo, em enviar tropas para apoiar a Ucrânia contra a Rússia, apesar de ser o chefe das Forças Armadas.

"O primeiro-ministro tem, através do controle do orçamento, um meio de oposição", alertou Le Pen, que deseja ser presidente de França em 2027 e cujos críticos a consideram próxima do líder russo Vladimir Putin.

Macron tornou-se um dos mais fortes apoiadores europeus da Ucrânia e uma vitória do RN pode enfraquecer sua posição, apesar de Bardella garantir na quinta-feira que pretende apoiar a Ucrânia, mas evitar uma escalada com Moscou.

Os primeiros indícios sobre se a extrema direita se aproxima ou não do poder surgirão na noite de domingo, quando será conhecido se há deputados eleitos no primeiro turno e a configuração dos duelos no segundo: com dois ou mais candidatos.

Socialistas, comunistas e ambientalistas, aliados do partido radical França Insubmissa (LFI) na coligação de esquerda NFP, já avisaram que retirarão seus candidatos se chegaram em terceiro lugar ao segundo turno para dar mais chances ao candidato do governo frente a um de extrema direita.

Sob pressão para adotar uma política semelhante em relação às forças de esquerda, Macron, cuja popularidade caiu devido às eleições antecipadas, deu a entender que o seu lema de voto será não votar nos "extremos", representados em sua opinião pelo RN e LFI.